Perseguida há meses pelo presidente do Comitê Olímpico Internacional, Thomas Bach, a dupla nomeação dos Jogos Olímpicos, em Paris 2024 e Los Angeles 2028, é sobretudo uma vitória do COI.
Na frente do organismo desde 2013, Bach resolveu combater a escassez de cidades candidatas com um pacote de medidas publicadas em dezembro de 2014, sob o nome de "Agenda 2020". O objetivo era, principalmente, reduzir os custos de organização dos Jogos.
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A proposta acabou não funcionando e três das candidatas para organizar a edição de 2024 foram renunciando uma a uma: Hamburgo, Roma e Budapeste. A negativa da população para o evento foi o principal motivo destas cidades. Boston, substituída por Los Angeles, também jogou a toalha.
Para evitar que as duas últimas cidades que estavam na fase final do processo não desistissem, Bach propôs que Paris e Los Angeles dividissem os eventos de 2024 e 2028 entre si.
Transformar crise em oportunidade
– Com suas reformas, Bach conseguiu transformar uma crise em oportunidade – analisou o acadêmico Jean-Loup Chappelet, especialista do movimento olímpico.
– A estratégia coincide com as de Emmanuel Macron (presidente da França), Anne Hidalgo (prefeita de Paris) e Eric Garcetti, prefeito de Los Angeles que quer ser presidente dos Estados Unidos – acrescentou Chappelet.
Bach tem mandato até 2021, mas pode ser reeleito. A sua política pensou no futuro do olimpismo e de sua carreira pessoal.
– Bach trabalha a longo prazo e muitas cidades vão se candidatar para 2032 pensando que, se Paris e Los Angeles conseguiram a dupla nomeação, elas também podem – avaliou Chappelet.
O COI, em sua época de bonança, viu as receitas chegarem aos 5,7 bilhões de dólares no período entre 2013 e 2016, valor 7,6% maior que no quadriênio anterior, 2009-2012.
Os valores eram em maioria direitos de transmissão, que englobam mais de 70% do total, enquanto o restante vem de direitos de marketing.
EUA salvaram COI em 1984
Mas apesar de McDonald's ter renunciado o acordo com os Jogos, sendo substituído pela Intel, a maioria dos patrocinadores olímpicos continuam americanos (General Electric, Coca Cola, Procter & Gamble, Dow Chemical e NBC). Isso favoreceria a candidatura de Los Angeles.
– Bach está consciente dos problemas do organismo que preside – explicou à AFP Patrick Nally, especialista em marketing esportivo e precursor do "Programa de Patrocinadores Olímpicos" (TOP).
– É preciso lembrar que nos Jogos de 1984, em Los Angeles, os Estados Unidos salvaram o COI. Graças, sobretudo, aos acordos com a Coca Cola e com a NBC, o país se transformou em um mercado muito importante – indicou.
– Paris é uma grande candidata, mas do ponto de vista comercial não é tão importante como a cidade californiana para o futuro do COI – acrescentou Nally, que garante que "Bach sabe perfeitamente que não pode mais contrariar o mercado do qual o COI mais depende".
A falta de candidaturas também afetou os Jogos de Inverno. A edição de 2018 foi atribuída para Pyeongchang, na Coreia do Sul, que se impôs a Munique e Annecy. Para 2022, o COI só recebeu duas candidaturas, a vencedora Pequim e Almaty, no Cazaquistão.
O cenário já mudou para os Jogos de Inverno de 2026, onde várias cidades se candidataram, entre elas Suin, na Suíça, e Innsbruck, na Áustria. A cidade canadense de Calgary, que recebeu a competição em 1988, ainda é dúvida por conta da situação financeira.
– Trata-se de não perder as cidades candidatas e de convencer suas populações, sobretudo fora da Ásia. Já se fala de uma dupla atribuição para 2026 e 2030, mas é pouco provável – garantiu Chappelet.
*AFP