O zagueiro multicampeão e o protagonista do "Gre-Nal dos 5 a 2" seguem no Beira-Rio. Seria bom se estivessem em condições físicas para entrar em campo e ajudar o Inter na Série B. Hoje, no entanto, atuam em outra área. O paulista Índio e o mineiro Fabiano trabalham no Relacionamento Social do clube. Participam de eventos e viajam para festas dos consulados.
– Para mim, é importante este trabalho junto à torcida, que sempre esteve ao meu lado. Isso não tem preço – diz Índio, 42 anos, 391 jogos e 33 gols pelo Inter.
Leia mais:
O mineiro Rodrigo Mendes ergueu um centro esportivo na Zona Norte
O cearense Iarley trabalha na formação dos guris colorados
O "cangaceiro" Dinho trocou o Nordeste por Porto Alegre
O alagoano Souza escolheu a zona sul da Capital para morar
Longe dos gramados desde o final de 2014, o ex-jogador nascido na pequena Maracaí, interior de São Paulo, ataca em várias frentes. Está construindo um condomínio de casas no bairro Vila Nova, zona sul de Porto Alegre, e só aguarda a documentação para colocar em prática a Escola de Futebol Índio 3. Ela terá sede na Capital e núcleos em cidades do Interior, como Taquara, Santa Maria e Guaíba.
– Quero trabalhar com a gurizada – resume o ex-zagueiro.
No Rio Grande do Sul desde 2002, quando foi contratado pelo Juventude junto ao Botafogo-SP, o zagueiro campeão de tudo se diz totalmente adaptado. Garante que aprendeu a fazer churrasco e até o chimarrão, que não gostava, passou a degustar.
– Minha vida começou a mudar quando cheguei ao Sul. Fui muito bem recebido e comecei a deslanchar. Agradeço muito ao povo gaúcho, em especial aos colorados.
A torcida sempre me apoiou, me incentivou. Hoje, me sinto gaúcho. Pretendo ficar aqui para sempre – revela.
Mas os primeiros momentos na Serra não foram fáceis. Índio desembarcou em Caxias do Sul com roupas incapazes de suportar as baixas temperaturas.
– Cheguei na época do frio. No início, lembro bem, só tinha uma blusinha, nem tinha condições financeiras de comprar mais. Joguei em muito clube que não recebia. Hoje, o coro já está grosso, acostumado com o inverno (risos).
Os 15 anos no Rio Grande do Sul renderam muitas amizades. Os ex-colorados Bolívar, Alex, Clemer, Iarley, Fabiano e Pinga estão entre elas. Também tem conhecidos no Interior. Costuma, com alguma frequência, viajar para pescar e caçar. Índio mora em um flat no bairro Praia de Belas.
Do salão de festas do prédio, tem como vista o Guaíba e o Beira-Rio. Diz que costuma ir aos jogos do Inter, dar força ao time. Mas o que a torcida gostaria mesmo é que ele pudesse estar em campo, liderando a zaga com a camisa número 3.
O atacante que driblou até o frio
Se Índio está há 15 anos no Rio Grande do Sul, Fabiano completou mais de duas décadas no Estado. O ex-atacante nascido em Minas Gerais, mas criado no interior paulista (na cidade de Pitangueiras), chegou ao Inter em 1996, vindo do Juventus-SP.
– O que assustava era o frio. Quando cheguei, sofri um pouquinho. Lá (em São Paulo), é verão quase todo o ano. No começo, também achei o gaúcho muito fechado. Pensava: "Eles são brabos, não sorriem". Mas depois, muita gente abriu a casa para mim – relembra.
A primeira moradia do atacante na Capital foi justamente o palco de suas maiores alegrias, o Beira-Rio. Fabiano ainda é do tempo em que alguns jogadores moravam em alojamentos no estádio. No local, fez amizades com funcionários que perduram até hoje. Aos poucos, foi conhecendo a cidade e subindo degraus como jogador. Depois de muito brilhar com a camisa vermelha, acabou negociado. Jogou no São Paulo, Santos e até no Exterior. Porém, sempre considerou Porto Alegre como seu lar.
– Não queria sair do Rio Grande do Sul, só pensava em jogar aqui. Me apeguei muito, tive uma identificação muito grande. As amizades pesaram, além do carinho do clube por mim e meu pelo clube. Fui criando laços e quando vi, não tinha mais como voltar a São Paulo. Até cheguei a pensar em retornar (para Pitangueiras), mas lá não me sentia mais em casa – comenta o ex-camisa 7 colorado.
Adaptado à Capital, Fabiano, hoje com 42 anos, garante que tem a rotina semelhante a de muitos porto-alegrenses. Morador do bairro Cidade Baixa, toma chimarrão, caminha no Parcão ou no Marinha do Brasil e faz churrasco nos finais de semana. Seu vínculo com o Rio Grande ficou ainda maior há pouco mais de dois anos, quando se uniu com a cruz-altense Francine.
– Me considero um gaúcho. Às vezes, sai até um bah. Conheço coisas do Estado que muitos gaúchos não conhecem.
Aposentado como atleta desde 2011, o ex-atacante trabalha há seis anos no Relacionamento Social do Inter. Chegou a fazer curso de treinador. A ideia era trabalhar como auxiliar, já que acredita não ter perfil para ser técnico. Por um período, fez parte da comissão liderada por Rodrigo Bandeira no São José, mas todos foram demitidos. A instabilidade da profissão assustou Fabiano.
– Ainda pretendo (ser auxiliar técnico), mas quando recebi a proposta do Inter, deixei de lado para optar por algo garantido – explica.
Outra aventura foi na política. Em 2012, concorreu a vereador. Recebeu cerca de 2,5 mil votos, mas não foi eleito.
– Tive de aprender, ler um pouco sobre a cidade. Foi legal, uma escola boa, mas acho que a política não está no meu sangue.
Com os joelhos debilitados pelas antigas lesões, o atacante veloz e driblador hoje é goleiro nas peladas disputadas no Parque Gigante. No seu time, atuam outros
ex-jogadores, como Índio, Pinga, Iarley, Vinícius e Paulo Diniz. Mas são dos dribles e gols que ninguém esquece, principalmente aqueles do clássico eternizado como o Gre-Nal dos 5 a 2.
– Graças a Deus, todo dia alguém lembra do 5 a 2. O 24 de agosto é o meu segundo aniversário. Aquele jogo mudou minha vida – recorda, com um ar de saudosismo.
*ZHESPORTES