
Quem gosta de futebol não entende como um grande clube do país pode empilhar derrotas para "desconhecidos" como Boa ou CRB. Ganhar do Flamengo e perder para o Avaí tem uma lógica. Ganhar do Corinthians e empatar com o CRB também. Mas não procurem explicação nas oscilações técnicas, na surrada “dificuldade em jogar contra times fechados” ou na sempre cobrada “garra” dos jogadores, e sim em fatores psíquicos que já estão na hora de serem reconhecidos no futebol.
Tite, por exemplo, teve resultados imediatos ao assumir a Seleção, o que seria impossível considerando apenas questões estratégicas, táticas ou de escalação, que levariam tempo para serem arrumadas. Mesmo com seu imenso conhecimento de futebol, temos de admitir que o único fator que mudou de imediato, sob a direção do Tite, foi sua capacidade de agregação do grupo.
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Larri Passos, técnico do campeão de tênis Guga, repetia sempre para o mesmo: "Foco, foco, foco". É no detalhe que se decidem muitas partidas e muitas vezes por instantes de perda de concentração. Um fator subjacente ao foco é a humildade: são incontáveis os exemplos de derrotas por "salto alto", por menosprezo aos adversários, por achar que "já ganhou" por ter um time mais caro ou mais famoso. Jogadores que se irritam com vaias também perdem o foco, pois seu papel seria estarem concentrados no jogo, não na plateia.
A importância da humildade no futebol começa com a direção, que tem de ser capaz de avaliar as próprias fragilidades para contratar adequadamente. De que adiantaria, por exemplo, empilhar jogadores famosos no ataque, tendo uma defesa vulnerável? Treinos fechados até poderiam ser uma demonstração de humildade – que o time tem de se aprimorar mais, sem plateia – desde que incluíssem o estudo do adversário a ser enfrentado. Quando treinadores discursam sobre seus brilhantes esquemas de jogo, caberia perguntar "você combinou isso com o adversário?".
Um dos sintomas que um clube não está focado no jogo a seguir, prenúncio de maus resultados, é quando o noticiário esportivo prevê que o time "planeja ganhar seis pontos nas próximas duas partidas em casa"”, por exemplo. Quem faz isso não tem foco, não está pensando somente no próximo jogo. Quem gosta de futebol não entende como um grande clube do país pode empilhar derrotas para "desconhecidos" como Boa ou CRB. Talvez exatamente por serem desconhecidos, por não se achar necessário estudar a fundo como jogam, quais seus pontos fortes e fracos.