O Porto terminou a última temporada sem títulos e ainda viu o rival Benfica faturar o tetracampeonato português de forma consecutiva, fato que ocorreu pela primeira vez na história do clube lisboeta. Contudo, o sistema defensivo dos Dragões se destacou, terminando a competição com apenas 19 gols sofridos em 34 partidas. Um dos pilares do setor, o lateral-esquerdo Alex Telles foi um dos principais nomes da equipe, contribuindo também com assistências.
Aos 24 anos, o ex-jogador do Grêmio vai para sua segunda temporada como titular do Porto. Em 2016/2017, disputou 45 partidas e marcou um gol, além de ter contribuído com oito passes para os companheiros marcarem.
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Alex Telles falou sobre a temporada sem conquistas do time português, a troca de treinadores, a convivência com Casillas e o polêmico cartão vermelho contra a Juventus, que acabou deixando a situação do Porto muito desfavorável na Liga dos Campeões.
A defesa do Porto foi uma das melhores da Europa na última temporada. Qual é o segredo?
A gente fica feliz que o nosso sistema defensivo tenha sido muito sólido e bem trabalhado. Fomos uma das equipes que menos levaram gol na Europa. Para a gente que tem como função principal defender, é muito gratificante. Sabemos que o trabalho foi bem feito, que colocamos em prática tudo aquilo que treinamos. Nos dá mais confiança para seguir com o trabalho.
Você também se destacou ofensivamente, dando muitas assistências. Só no Português, foram oito. Você tinha muita liberdade para atacar?
Foi a primeira vez que eu trabalhei com o Nuno Espírito Santo. No início, ele não me conhecia tanto, mas foi descobrindo minhas características ao longo da temporada. Em determinado período, ele foi me conhecendo melhor, passou a me colocar nas bolas paradas, me dando mais liberdade no ataque. Passei a marcar muito melhor depois das minhas passagens pela Turquia e Itália, aprendi muitas coisas que me fizeram ter uma parte defensiva mais sólida. A partir daí, pude usar minha maior qualidade que é o ataque, de deixar o atacante em boa posição para marcar. Com o tempo foi dando certo, as assistências foram saindo, com cruzamentos e em bolas paradas, o que foi me dando confiança. E espero continuar nesta vertente para ajudar o Porto.
Como as passagens por Galatasaray e Inter de Milão ajudaram a melhorar seu futebol?
São duas escolas diferentes, com futebol bem jogado. Na Itália, é muito mais estudado, muito mais tática. Na Turquia também. Quando cheguei a Istambul, o técnico Roberto Mancini me deu todo o suporte e acabou me ajudando. Foram temporadas muito boas, acabei aprendendo muita coisa, principalmente no setor defensivo, e acabei crescendo neste sentido. No Brasil, tinha essa característica de subir ao ataque, já tinha dado boas assistências, e foi sempre o meu diferencial. Acabei aperfeiçoando isso no futebol europeu e trabalhei mais a parte defensiva. Não tenho dúvida que foi lapidado toda essa qualidade que busco ter.
O que espera com Sérgio Conceição, novo treinador que assumiu no lugar de Nuno Espírito Santo?
Espero que venham coisas positivas. Mudanças são feitas para melhorar. O grupo é jovem, merece toda a atenção para poder voltar a conquistar títulos. O Sergio fez um excelente trabalho no Nantes, conseguiu resgatar o time de uma posição ruim e terminar o Campeonato Francês muito bem. Sabemos que é um treinador muito competente, que sabe o que faz. O lado bom é que ele já foi jogador, sabe o que cada um gosta e o que cada um precisa. Não tenho dúvida que vai ser uma sintonia muito boa e só esperamos o melhor dele, assim como ele espera o melhor de nós. Esperamos fazer um grande trabalho e poder terminar com o título.
Como é trabalhar com alguém tão vencedor como o Casillas?
É muito bom trabalhar com ele, pela história que ele tem, pelos títulos que conquistou. É um exemplo dentro de campo. Sua experiência nos ajuda muito.
Você já adquiriu a dupla cidadania. Pensa em defender a seleção italiana?
Já tenho o passaporte italiano, já sou cidadão europeu, mas muita gente fala da seleção italiana, do Brasil. Eu procuro não falar muito disso, pois a possibilidade existe, mas não teve nada concreto ainda. Muita gente acaba falando e dando opinião sem saber. Procuro fazer o meu trabalho no Porto da melhor maneira possível, todo mundo sabe do meu sonho de criança de representar a Seleção Brasileira. Trabalho e busco isso. Sei que o meu momento vai chegar, hoje há muitos jogadores competentes na posição, que estão bem em seus clubes. Sou consciente disso. Quero aproveitar a oportunidade quando ela aparecer.
Alguém da Itália já o procurou para falar sobre isso?
Não, nunca teve contato algum, nada concreto. Tudo que saiu foi pela imprensa ou de falatório. Então, procuro não saber muito disso e foco apenas no meu trabalho. No dia em que chegar alguma coisa concreta, a gente senta, analisa e vê o que é melhor.
Mas você já pensou em defender a Itália, caso não tenha oportunidade na Seleção Brasileira?
Não cheguei a pensar nisso ainda, até porque não chegou nada concreto. A partir do momento que chegar e for verdadeiro, aí vou analisar junto com a minha família, não vou decidir sozinho. Para mim, é uma decisão muito importante, mas não posso negar que a seleção italiana tem uma história incrível, tem peso e camisa. Não tenho dúvidas que seria muito bem representado. Mas vou esperar o momento certo.
Durante a Liga dos Campeões, você acabou levando o cartão vermelho no primeiro jogo contra a Juventus, e o Porto perdeu por 2 a 0. O que ficou de lição para você depois desse episódio? Como foi a reação do técnico e dos jogadores?
Para mim foi uma tristeza enorme. No momento, era o jogo mais importante da minha vida, e acabei jogando por água abaixo uma grande oportunidade. Talvez por estar muito concentrado ou por estar na adrenalina do jogo. Não sou um jogador de ser expulso tão facilmente. Tenho poucos cartões vermelhos na carreira. Mas foi um caso à parte, aprendi muito com meus erros. Errei e todo mundo sabe disso. Não tenho dúvidas que cresci muito com esse episódio, tive o apoio da minha família, dos meus companheiros, do técnico. Todo mundo me apoiou muito. Hoje ainda sou muito lembrado por isso, fui criticado em alguns momentos. É a verdade de outra pessoa, busco minha verdade e pretendo melhorar a cada dia. Aprendi muito e tenho certeza que isso me fez crescer demais. A partir de hoje serei um jogador diferente nesse sentido e isso serviu de aprendizado.
Disputar a Liga dos Campeões tem de fato uma atmosfera diferente?
Com certeza. É como a Libertadores no Brasil, tem um sentimento diferente. A Liga dos Campeões, para mim, é como uma mini-Copa do Mundo, pois tem os melhores jogadores, grandes jogos. É um prazer, um sonho realizado, estar jogando e fazendo parte desse campeonato. O Porto se classificou novamente, desta vez de forma direta. É uma experiência que consigo adquirir e levar comigo. Agora é treinar cada vez mais para poder chegar no nível dos principais jogadores e poder jogar de igual para igual.