Futebol é apaixonante. Sei disso desde criança, quando comecei a torcer por um time, jogar bola na escola e ficar acordado até tarde para ver os gols no Fantástico – nos anos 1980, era a primeira chance de assistir a lances dos jogos de domingo (não havia TV a cabo, internet, celular).
Escolhia sempre o mesmo número da camiseta porque era o do meu maior ídolo. Para o fã, tudo o que o jogador faz é o mais lindo do mundo. É um ser incontestável. Se ele faz um gol, merece Seleção Brasileira. Se ele é expulso, a culpa é do juiz.
Mas fui crescendo e percebendo que a idolatria precisa ser cultivada com prudência. Senão, o ciclo fica doentio e perigoso. Explico com uma pergunta.
O que leva um atleta a comemorar um gol fazendo gestos com mãos e braços simulando estar dando tiros?
E pior, apontado para a torcida!
Isso me irrita. Ainda mais se estou assistindo a uma partida com meu filho ou meus sobrinhos. Já vivemos num mundo tão violento que ninguém merece ver uma "arma" metida num momento de alegria. Muito menos os fãs do autor do gol. Se já é complicado para um adulto entender, imagina para uma criança.
Na função que exerço, de fazer a capa do Diário Gaúcho, seguidamente deparo com fotos de comemoração com gestos imbecis destes. Lamento, goleador, mas nas páginas do DG, assim, você não sai. Prefiro qualquer outra. Agindo assim, você será um ídolo do mal, dando mau exemplo e cultivando ódio num momento que deveria ser de extrema alegria e confraternização.
Aliás, por que a Fifa não inclui na regra um cartão amarelo para este tipo de comemoração? Ou melhor: teria de ser vermelho. Atirar em alguém é crime em qualquer lugar do mundo. Tentar também.
E mais convicto fiquei em relação a esta minha proposição diante de uma punição que ocorreu na semana passada. Na partida Vitória 0x2 Paraná, pela Copa do Brasil, o juiz deu amarelo para o atleta Guilherme Biteco, que fez o segundo gol e tirou a camisa. Embaixo, havia outra para homenagear o irmão Matheus, uma das vítimas do avião da Chapecoense.
A cena é emocionante, pois o atleta caiu num choro sem fim. Sei, é a regra, mas faltou bom senso ao árbitro. Assim como falta atitude à Fifa para punir estes "artilheiros" com pinta de "pistoleiros".
O rigor da aplicação dos cartões precisa de uma revisão urgente, senhores membros do International Football Association Board (IFAB), órgão responsável pela mudança das regras no futebol.