O atleta olímpico brasileiro mais vencedor da história encontrou forças para seguir adiante. Robert Scheidt começa 2017 como os últimos 33 anos: na água. Aos 43, parecia ter encerrado sua trajetória com o quarto lugar na classe laser nos Jogos Olímpicos do Rio. Surgiu, porém, a oportunidade de trocar de barco e fazer parceria com Gabriel Borges na 49er.
A partir de segunda-feira, Scheidt dá pontapé inicial para sua sétima corrida olímpica na disputa da Copa Brasil de Vela, sediada nos clubes Veleiros e Jangadeiros, em Porto Alegre. No horizonte, a possibilidade de engordar a incrível coleção de cinco medalhas olímpicas – dois ouros, duas pratas e um bronze.
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Nesta entrevista a ZH, ele fala das boas lembranças que tem do Guaíba, ressalta a motivação renovada com a troca de classe e afirma que, a despeito da fome de vitórias, hoje coloca sua família em primeiro lugar.
Como está o início de mais um ciclo, agora em uma classe nova?
Está bem interessante. É uma mudança grande de classe. O Laser é um barco lento e individual, e o 49er é rápido e de dupla. Ainda estou em processo de adaptação. É um barco que você precisa passar muitas horas velejando para dominar. É nossa primeira competição nacional, estou muito motivado para voltar a competir em Porto Alegre, no Guaíba. Aqui é um lugar em que tenho excelentes memórias. Competi bastante aqui, desde muito jovem. Tenho muitos amigos aqui. Na 49er temos muitas duplas novas, então é difícil prever o resultado.
Como você se motiva para buscar grandes objetivos em mais um ciclo?
O que me faz continuar é o prazer de velejar, de competir, de me superar. Por enquanto, meu corpo ainda permite que eu faça isso. Assim, eu sigo em frente. Mudar a categoria motiva bastante também. Você entra em um mundo novo, aprende coisas novas que você antes não imaginava. Isso me completa mais como velejador. Por outro lado, sei que é uma classe já muito forte no cenário internacional. Um ciclo olímpico parece muito tempo, mas não é tanto assim. Temos um espaço curto para tentar velejar em alto nível nessa categoria. Esse ano vai ser importante para velejar muitas horas e dominar o barco.
Quando você voltou para a Laser, depois de dois ciclos na Star, falava da dificuldade de ser um atleta experiente em uma classe que exige muito da parte física. Como é essa questão na 49er?
No ciclo do Rio eu já entrei em um território desconhecido. Nunca outro atleta chegou com mais de 40 anos competindo em alto nível na laser. Sabia que era um ciclo em que eu teria que dosar o treinamento, focar mais na qualidade, não tanto na quantidade. Foi mais uma questão de regularidade, que faltou para mim no Rio, do que a questão física. O quarto lugar é um pouco frustrante por estar tão perto do pódio e terminar sem nada na mão. Achei que ali terminaria minha carreira olímpica, mas surgiu essa oportunidade do 49er e eu resolvi dar uma chance. Sempre olhei as competições de fora e admirei, pensava que seria um barco fantástico de velejar. Foi importante fazer parceria com o Gabriel, que já é experiente. No lado físico, não é que exige menos, é diferente. No laser, existe uma exigência de resistência muscular. No 49er, é mais explosão.
O que mudou na forma com que você encara a preparação se comparar com o primeiro ciclo olímpico?
Muda muita coisa. Eu era um jovem fazendo faculdade, com 22 anos. Hoje eu tenho dois filhos. A família é a prioridade número 1. Lógico que eu ainda quero resultados e sonho com medalhas, mas a prioridade é dar educação para os meus filhos, ser um bom pai, um bom marido. Acho que meu corpo ainda me permite velejar em alto nível e estou motivado com essa troca. É uma troca difícil, muita gente diz que passou meu tempo para a 49er. Mas eu acredito e tenho a ajuda de um grande proeiro. O tempo vai dizer se essa decisão foi acertada ou não. De qualquer forma, é uma experiência que vai me acrescentar como velejador. Fora os oito anos na star, passei 25 anos velejando sozinho. Competir em dupla de novo, em um barco rápido, que dá muita adrenalina e você tem de tomar decisões rápidas, motiva bastante. É uma nova forma de velejar.
Jovens ao lado dos ídolos
Em paralelo com a Copa Brasil, será realizada a Copa Brasil Jovem. Breno Kneipp, do Jangadeiros, que defende o título conquistado com Ian Paim no ano passado, comemora a oportunidade de conviver com campeões como Scheidt e a dupla Martine Grael e Kahena Kunze, medalhistas de ouro no Rio:
– É uma chance de ver, do nosso lado, como o nosso futuro pode ser.
Parceria de clubes
Veleiros e Jangadeiros, os dois principais clubes náuticos da Capital, juntaram-se para sediar a Copa Brasil de Vela. O evento, que vinha sendo realizado em Niterói, mudou-se para o Sul.
– A Confederação procurou os clubes e falou da necessidade de manter o campeonato em meio aos cortes de recursos. Nós temos muita estrutura pronta aqui, o Rio Grande do Sul é o maior polo de vela do Brasil – explica Eduardo Ribas, comodoro do Veleiros.
– Temos uma rivalidade sadia dentro da água, mas nada que se compare a um Gre-Nal. Até brinco com o pessoal do Veleiros pra gente não "grenalizar" a relação (risos) – brinca Manuel Pereira, comodoro do Jangadeiros.
Primeira velejada
No domingo, às 10h, o Jangadeiros promove o evento Descobrindo a Vela. A Escola de Vela Barra Limpa, nas dependências do clube, abrirá as portas para crianças de 7 a 14 anos, acompanhadas de seus pais, que queiram conhecer a vela. Elas poderão participar de uma velejada no Guaíba. Às 12h30min, a gurizada vai poder conversar com Scheidt, Martine e Kahena.
Programação
Copa Brasil de Vela – de 5 a 11 de março
– A Cerimônia de Abertura será no Clube Jangadeiros, no domingo, às 20h.
– As regatas serão realizadas de segunda até o próximo sábado e estão marcadas para iniciar às 13h, com exceção do sábado, quando estão previstas para as 11h. Os horários podem variar de acordo com as condições climáticas.
– A Cerimônia de Encerramento será no Clube Veleiros, no próximo sábado (11), às 20h.
– A entrada nos clubes durante os dias de competição é franca, mediante identificação na portaria.
* ZH Esportes