No futebol brasileiro, o porco virou predador. O Palmeiras vive um momento de bonança financeira que não encontra paralelo na história recente do esporte no país. A contratação do colombiano Miguel Borja, decisivo na conquista da Libertadores 2016 pelo Atlético Nacional-COL, por R$ 30 milhões, prova que, na América do Sul, ninguém pode competir com o clube paulista – pelo menos fora de campo. Agora, a expectativa alviverde é de confirmar o anunciado favoritismo com títulos ao longo da temporada.
Os bolsos palmeirenses se encheram a partir de 2015, quando o clube contratou o executivo de futebol Alexandre Mattos. Responsável pela montagem do grupo do Cruzeiro que faturou o bi brasileiro em 2013 e 2014, Mattos chegou à Academia do Futebol e encontrou um clube que vivia de crise em crise: o rebaixamento à Série B em 2012, a volta sem brilho no ano seguinte e a quase queda em 2014.
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Mas também havia bons sinais – o Allianz Parque foi inaugurado no final de 2014, e logo no início do seu trabalho o clube iniciou a parceria de patrocínio com a Crefisa, que ajudou a retomar a confiança dos torcedores com o título da Copa do Brasil, em 2015, sob o comando de Marcelo Oliveira, e o Brasileirão do ano passado, com Cuca na casamata.
Para explicar como o Palmeiras chegou a este patamar, é obrigatório falar da Crefisa. Uma das maiores empresas de crédito pessoal do Brasil, a financeira é comandada pelo casal Leila Mejdalani Pereira e José Roberto Lamacchia – ele palmeirense, ela carioca e vascaína, mas agora convertida. Os dois também são donos da FAM (Faculdade das Américas), outra companhia com a sua marca estampada no uniforme do Palmeiras.
Enquanto Lamacchia mantém um perfil mais discreto, Leila se tornou a cara da financeira para a torcida. Após uma relação conturbada com Paulo Nobre, o antigo presidente do clube, a situação mudou da água para o vinho com o novo mandatário. Maurício Galiotte é amigo do casal – e, ao contrário do antecessor, prefere delegar o trabalho com o futebol para Mattos. Assim, o executivo trata diretamente dos reforços com a patrocinadora, que ajuda a bancar as contratações e parte dos salários.
– Hoje em dia, quando o Palmeiras entra na briga por algum jogador, dificilmente perde. O Mattos está em um patamar de grande gestor. Ele chegou com carta branca do Paulo Nobre, que não entendia muito de futebol, e pela sua performance seguiu com essa liberdade com o Galiotte, que conhece um pouco mais do jogo. E ele sabe como contratar jogadores, lidar com eles. Agora, está em um segundo momento de investimentos: com uma base mantida, foram contratados reforços pontuais. O time precisava de um atacante após a saída do Gabriel Jesus, veio o Borja. Precisava de um meia, veio o Guerra – diz Eduardo de Meneses, repórter da ESPN Brasil que cobre o clube.
– O diálogo entre Crefisa e Mattos é direto e ágil. Ele tem mais autonomia para assumir a frente nas negociações – explica Guilherme Seto, repórter da Folha de S.Paulo.
O jornalista, no entanto, deixa um alerta:
– O perigo que isso deixa para o Palmeiras é de ingerência política.
Para evitar os riscos, a receita é simples: faturar mais taças. Após os dois títulos nacionais, o grupo foi recheado com seis contratações para 2017. Além de Borja, o venezuelano Alejandro Guerra foi outro jogador sacado do Atlético Nacional, enquanto Felipe Melo veio da Europa e Michel Bastos, do São Paulo – ambos sem custo. Já os jovens Hyoran (ex-Chapecoense) e Raphael Veiga (ex-Coritiba) chegaram como jovens promessas. O comando do trabalho ficou a cargo de Eduardo Baptista, de bons trabalhos no Sport e na Ponte Preta e de uma passagem ruim pelo Fluminense. Tudo isso com o objetivo claro de vencer a segunda Libertadores da história palmeirense.
– A expectativa do clube é de ganhar tudo. Ser vice-campeão não é suficiente. O parâmetro é o título do ano passado. Com um elenco muito melhor, a Libertadores virou objetivo primário, e o Brasileiro, quase obrigação. Tanto é assim que, depois da derrota para o Ituano na segunda rodada do Paulistão, o técnico já foi criticado pela torcida, que pediu a volta do Cuca. O palmeirense está muito impaciente – afirma Seto.
– Se o Palmeiras chegar só até a semifinal da Libertadores, vai ficar um clima de decepção. A montagem é para fazer uma grande Libertadores. O que fica de certeza é que a autoestima do palmeirense aumentou. O clube está com a faca e o queijo na mão – completa Meneses.
Se vai dar certo ou não, é preciso esperar os resultados do campo. Mas o Palmeiras tem feito de tudo para deixar claro que o porco está com as presas à mostra no mercado.
*ZHESPORTES