Mesmo por telefone, era possível perceber na tarde desta quinta-feira o orgulho de Gato Fernández com a noite de glória do filho na classificação do Botafogo á fase de grupos da Libertadores, na quarta-feira à noite. O ex-goleiro de Inter e Palmeiras havia sido transportado para o campo, aos 60 anos, pelo filho que não seguiu seus conselhos e decidiu-se por ganhar a vida de luvas. O coração de torcedor de Gato Fernández também estava acelerado. O filho, mais do que classificar o Botafogo, tirou de cena o eterno rival Olimpia.
Você foi ao Defensores del Chaco ver seu filho ao vivo?
Não, não tinha como. Os torcedores do Olimpia sabem que sou do Cerro Porteño. Assim como meu filho. Era muito perigoso, vi o jogo em casa.
O Gatito, então, teve vitória dupla.
Ele começou no Cerro. Quando voltei do Brasil, em 1995, joguei mais dois anos no Cerro. Meu filho ia para a concentração comigo, para os treinos. Ele começou na base e se profissionalizou lá. Depois foi campeão nacional invicto em 2012. Em cem anos, foi a primeira vez que um time ganhou o Paraguaio sem perder um jogo
Como a família Fernández está se sentindo hoje?
Meu filho fez o caminho dele muito bem. A família está muito feliz. Na véspera do jogo, ele veio jantar conosco, reviu a mãe e a irmã. Depois do jogo, fui ao hotel vê-lo. Ficamos pouco tempo juntos, já que o Botafogo voltou de madrugada, em voo charter.
A atuação ganha ainda mais vulto por ele ter saído do banco.
Ele se machucou, e o outro goleiro (Helton Leite) entrou bem. Meu filho queria muito enfrentar o Olimpia. Gosta de enfrentá-los com estádio lotado. Fiquei muito orgulhoso porque entrou em momento difícil e se saiu bem. Estava tranquilo quando nos falamos depois do jogo.
Ele sempre foi tranquilo?
Não, quando era criança era agitado. Aí no Colégio Santa Inês, em Porto Alegre, fui chamado muitas vezes porque era inquieto, bravo. Quando cresceu, se acalmou.
Pegar pênaltis é especialidade dele?
Sempre foi bom nos pênaltis. No Paraguai e na Holanda, onde jogou, também pegou alguns.
Ele reprisou uma atuação sua da semifinal da Copa do Brasil de 1992, quando pegou dois pênaltis no Gre-Nal das quartas de final. Você se lembra desse jogo?
Não me lembro. Ontem (quarta-feira), estava conversando com o Antônio Lopes no hotel do Botafogo. Ele é gerente de futebol e foi o técnico do Inter em 1992. Foi ele quem lembrou desse jogo. Confesso que não me recordava.
Você conversa e dá dicas para o Gatito?
Não, não falamos muito. Quando pequeno, queria que ele jogasse na linha, eu sabia o que passava um goleiro. Mas ele não era muito de futebol. Com 14 anos, decidiu que seria goleiro. Como pai, apoiei porque queria que ele fizesse um esporte. Ele se saiu bem, né? Agora, só falta me dar um neto. Eu e a mãe dele já estamos ficando velho, estamos cobrando.