Todos contam os dias em Salvador. Para o Carnaval e para o primeiro Ba-Vi do ano. Em 9 de abril, Bahia e Vitória medirão forças na Arena Fonte Nova. E quando falo forças, é força mesmo. Porque os dois clubes foram às compras como poucos fizeram no Brasil no início deste austero 2017.
O Vitória entregou para Argel Fucks 14 jogadores. É verdade que neste pacotão estão alguns bem conhecidos nossos, Alan Costa, Geferson e Fred. Outros, no entanto, seriam recebidos no Salgado Filho com festa. Casos de Dátolo, Cleiton Xavier e Pisculichi. Sem contar aqueles que seriam recebidos por Renato e Antônio Carlos Zago com um sorriso no rosto, como o lateral-direito Leandro Salino, o meia Gabriel Xavier e o atacante Paulinho.
Leia mais:
Allione comemora chance no Bahia e prevê clássico quente em Salvador
Cleiton Xavier aposta em valorização do futebol nordestino a partir da Bahia
O Bahia foi um pouco mais comedido. Trouxe "só" nove reforços para vitaminar o grupo de Série A usado para sair da Série B. Guto Ferreira recebeu nomes conhecidos do eixo Rio-SP, como o meia argentino Allione e o volante Matheus Sales, do Palmeiras, e o lateral-direito Wellington Silva e o volante Edson, do Fluminense. Para a lateral-esquerda veio o colombiano Pablo Armero, 30 anos e com a Copa de 2014 no currículo.
Os investimentos dos baianos desviaram para o Nordeste o eixo do mercado da Série A. Ninguém buscou 14 reforços como o Vitória. Aliás, foram tantas chegadas ao Barradão que o clube organizou escala de apresentações. Começou com Dátolo, anunciado nas redes sociais como "O Maestro é nosso" e seguiu com um por dia. O zagueiro Fred, ex-Grêmio, por exemplo, só foi apresentado uma semana depois de estar no clube.
O marketing do clube aproveitou e fez ação com torcedores antes da estreia na Copa do Nordeste, contra o Sergipe. Batizada como #TáContratado, ofereceu ao torcedor a chance de tirar foto atrás de uma mesa branca e entre displays em tamanho natural do presidente Ivã de Almeida e do více de futebol Sinval Vieira – que tinha o dedo apontado e um balãozinho saindo de sua boca: "Está contratado".
Sinval garante que, apesar da chegada de nomes consagrados, as contas não foram afetadas. Seu grupo político assumiu na virada do ano. A bandeira da campanha era mais do que evitar os sustos do último Brasileirão. O projeto é buscar vaga na Libertadores.
– Resolvemos dar uma sacudida, eram investimentos necessários. A briga com o Inter provocou muito sofrimento. Não gastamos com empréstimo ou compra, mas pagando bons salários a jogadores que queria ver no Vitória – diz Sinval.
Os cofres foram abastecidos pelas vendas. Marinho rendeu R$ 8 milhões pelos 50% que o clube detinha. O volante Marcelo, outros R$ 5 milhões. Outros 12 jogadores saíram e aliviaram em R$ 600 mil a folha, que não passará de R$ 3 milhões.
O projeto do Bahia obedece a diretrizes alicerçadas na profissionalização e reestruturação implantadas pelo presidente Marcelo Sant'Ana há dois anos. A primeira etapa, de modernização dos equipamentos, consumiu R$ 4 milhões. Ainda neste ano, depois de resolvido imbróglio com a OAS, o clube deve se mudar para um CT fora de Salvador com 300 mil metros quadrados.
Sant'Ana, um jornalista de 35 anos, se orgulha do rótulo de bom pagador do Bahia. O 13º foi quitado todo em novembro. O salário entra na conta até o dia 30. Ele aponta a seriedade do clube como trunfos para atrair nomes de primeira linha:
– Os jogadores falam bem do clube porque pagamos certo. Nesse contexto, atraímos novas novas marcas. Estampamos seis na camisa do clube.
O Bahia comemora a adesão da torcida. Hoje, larga com 8 mil ingressos já vendidos em seus jogos. O que rende R$ 650 mil mensais. Quase nada perto dos R$ 7 milhões do Inter, por exemplo. Mas um recurso que encaixa em um orçamento enxuto tocado por profissionais – só o presidente e o vice são políticos, e ainda assim Sant'Ana é remunerado. As novas contratações atenderam à exigência da Série A. O que não significou inchaço na folha.
– Era R$ 2,1 milhões na Série B e chegará a R$ 3 milhões agora. Isso só com o futebol. Acrescente aí mais R$ 1 milhão gastos com os demais funcionários – diz Sant'Ana, mostrando que a Bahia tem, além da ousadia dos seus dirigentes, uma alta dose de profissionalismo.
*ZHESPORTES