Já corriam 71 minutos de partida entre Chapecoense e Palmeiras quando trilou o apito do árbitro Heber Roberto Lopes, que parou o jogo na Arena Condá. Naquele instante, em que o placar era de Verdão do Oeste 2 x 1 Verdão Paulista (o jogo terminou empatado em 2 a 2), a bola parou de rolar por um minuto. Era o momento de orar pelas 71 vítimas do voo da LaMia, entre eles jornalistas esportivos e quase todo o time profissional da Chapecoense. A oração veio em voz alta, em milhares de vozes, com o hino Vamo, Vamo Chape!
A parada serviu para reforçar que não estávamos diante, apenas, de um jogo de futebol, mas de um evento que misturou sentimentos fortes com esperança. O que presenciávamos era o renascimento de um time e, com ele, de toda uma cidade e uma região. A maior homenagem possível aos heróis que partiram foi esta: oração e, antes e depois, ação com bola rolando.
Em campo, emoção e mais emoção. Como você viu no início da crônica, havia bola rolando, mas os olhares do planeta estavam voltados para os detalhes, um deles, ainda antes do apito inicial, chamava atenção: o troféu da Sul-Americana, postado, imponente, à frente da torcida. A taça que repousa em solo chapecoense e que jamais os guerreiros que morreram antes desta batalha pelo título puderam por ele lutar.
Fora o gramado, uma história à parte. Havia bola rolando, sim, mas a torcida não queria cobrar espetáculo dos atletas, nem mesmo dos convidados, o campeão brasileiro Palmeiras. Conferir os novos índios guerreiros e familiarizar-se com as novas caras, era um dos objetivos. Aplaudir o ilustre visitante, que veio honrar o retorno do futebol profissional, era outro.
Antes disso tudo, voltamos no tempo para o pré-jogo. Nas cabines, emoção pura: imprensa do mundo inteiro, Galvão Bueno, principal narrador brasileiro e, claro, a presença de Rafael Henzel, jornalista que sobreviveu, deixou as homenagens no gramado e foi para a cabine para narrar a partida.
A cerimônia que antecedeu ao jogo histórico, momentos de homenagens muito além do que se qualifica como tocantes. Poucos conseguiram segurar o choro quando as medalhas foram entregues aos familiares. E, claro, lembra do troféu? Foi entregue aos campeões, os sobreviventes Jackson Follmann, Neto e Alan Ruschel. Ecoou pelo estádio o já tradicional e carregado de significados coro de “Vamo, vamo Chape...”Follmann, que ganhou alta provisória, deixou o gramado de cadeira de rodas, com a taça no colo.
Os capítulos que antecederam a partida serviram também para apresentar o novo grupo de jogadores. Um por um, tiveram seus nomes anunciados e aplaudidos.
Mas a bola rolar era importante, também. Simbolismo de que a volta por cima foi dada. Sem deixar de lado a dor da perda, com certeza, mas dando uma chance à esperança. Significava que era possível no curto espaço de tempo entre a fatídica madrugada de 29 de novembro de 2016 e este dia 21 de janeiro de 2017, reconstruir um time de futebol. E fazê-lo jogar em nome do orgulho de toda a nação do Oeste, de todos catarinenses, dos novos parceiros colombianos e em homenagem aos irmãos que partiram.
E com a gorduchinha rolando, emoções logo no início. O Palmeiras, logo aos 11 minutos, abriu o placar, com gol do estreante Raphael Veiga. Três minutos depois, Douglas Grolli, que retorna ao time da Chape, empatou. Os dois gols em jogadas parecidas, de duelos dentro da área. No caso palmeirense uma articulações pela ala esquerda, já o time da casa a partir de falta cobrada dentro da área.
Tivemos uma etapa bastante movimentada, em que pudemos perceber dois times que vão crescer muito de rendimento no decorrer da temporada.
No segundo tempo, com menos de um minuto, o gol da virada da Chapecoense. Amaral, de cabeça. A vantagem da Chape foi estabelecida já com o Palmeiras tendo modificado oito jogadores. A Chapecoense seguiu o mesmo caminho e, com 15 minutos da segunda etapa, já tinha nove atletas em campo.
A parte técnica da partida caiu muito, servindo apenas para os torcedores verificarem a movimentação de alguns dos novos nomes. Um dos nomes que aproveitou a chance, foi Elias, que, aos 20 minutos, fez grande defesa, evitando uma investida de Eric.
Mas o jogo não terminaria no 2 a 1 da parada relatada no início desta crônica. Vitinho, aos 33 minutos, empatou a partida, com um lindo chute de fora da área.
CHAPECOENSE 2
Artur (Elias); João Pedro (Cebajos), Groli (Natan), Fabrício Bruno (Luiz Otávio) e Reinaldo (Diego Renan); Amaral (Luiz Antônio), Andrei Girotto (Moisés) e Neném (Dodô); Rossi (Artur), Niltinho (Osman); Wellington Paulista (A) (Tulio de Melo). Técnico: Vagner Mancini.
PALMEIRAS 2
Fernando Prass (Jaílson); Jean (Fabiano), Antônio Carlos (Maílton), Thiago Martins e Egídio; Felipe Melo (Arouca); Róger Guedes (A) (Hyoran), Tche Tchê (Thiago Santos), Raphael Veiga (Vitinho) e Dudu (Keno); Alecsandro (Eric). Técnico Eduardo Baptista.
Arbitragem: Héber Roberto Lopes, auxiliado por Nadine Bastos e Maíra Labes