Um árbitro foi agredido por jogadores e torcedores depois de uma partida de um campeonato de futsal no Vale do Taquari. O caso ocorreu no Ginásio Municipal de Doutor Ricardo no último domingo, dia 11. José Luiz Alves Vicente, 57 anos, teve duas costelas fraturadas e dois dentes quebrados.
O jogo entre os times Arranca Toco e Arcari Vidros/Hz Esquadrias era uma das semifinais da 1ª Copa Amizade Regional de Futsal. Por volta das 22h30min, quando o árbitro deu o apito final, cerca de 20 torcedores partiram para cima de Vicente com chutes e socos. Em um vídeo gravado por um torcedor e divulgado nas redes sociais é possível ver que os outros dois árbitros tentaram impedir as agressões, sem sucesso. Mesmo quando Vicente caiu no chão, os agressores continuaram com as pancadas. A violência só terminou com a chegada da Brigada Militar.
Na mesma noite, o árbitro foi levado de carro por um colega da arbitragem ao Hospital de Pronto-Socorro de Canoas, onde mora. Ele teve duas costelas fraturadas, a mandíbula deslocada e dois dentes quebrados. Vicente tem 35 de experiência na arbitragem. Ele registrou um boletim de ocorrência por lesão corporal na Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento de Canoas e outro por injúria racial em uma delegacia de Porto Alegre. Segundo Vicente, ele foi xingado de "negro sujo", "negro ladrão" e "negro incompetente" antes das agressões começarem.
Racismo
De acordo com Vicente, a confusão iniciou após a segunda expulsão da partida. Com um integrante a menos em cada time, o árbitro ouviu os xingamentos. Faltava três minutos para o Arcari levar a vitória quando o Arranca Toco, de Anta Gorda, empatou a partida, vencendo nos pênaltis. Quando o jogo terminou, a quadra foi invadida. Vicente ouviu gritarem "negro tem que apanhar mesmo".
Com base no vídeo divulgado na internet e no relato da vítima, os advogados tentarão corrigir as denúncias de lesão corporal e injúria racial registradas nas delegacias, mudando-as para tentativa de homicídio e caso de racismo. A injúria racial, explica Karla Meura, uma das advogadas, é quando apenas o indivíduo é ofendido. O entendimento dos advogados, porém, é que uma das ofensas contra Vicente atingiu todos os negros.
– As ofensas foram motivadas por questão racial – afirma Karla.
A tentativa de homicídio, segundo o advogado Rodrigo Rollemberg Cabral, será com base na gravidade das agressões exibidas no vídeo.
– Se tu olhar o vídeo, tu vê que dão chutes no rosto e no pescoço do Vicente, enquanto ele está caído no chão – diz o advogado.
Em 35 anos orientando partidas de futebol e futsal, foi a primeira vez que Vicente viu tamanha violência. As ofensas em relação a sua cor, porém, foram ouvidas outras vezes, sem que desse importância.
Ele terá de ficar quatro meses parado, recuperando-se das agressões. Como as partidas são sua única fonte de renda, os colegas da arbitragem estão fazendo uma rifa para não deixá-lo desassistido.
O delegado Silvio Huppes, responsável pela Polícia Civil de Doutor Ricardo, informou que dará início à investigação assim chegarem as ocorrências policiais feitas em Canoas e Porto Alegre.