Rafael Henzel trata como um milagre ao fato de ter sobrevivido à tragédia envolvendo o avião da Chapecoense. Também pudera. O jornalista, que é um dos seis sobreviventes a queda do voo da LaMia, na Colômbia, matando 71 pessoas, revelou em entrevista ao Timeline, na Rádio Gaúcha, que trocou quatro vezes de lugar antes de sentar ao fundo da aeronave.
– Era a segunda viagem que fazíamos nesta empresa. E se tornou perfeita, porque o time estava na final da Copa Sul-Americana, com jogadores valorizados. Havia um espírito positivo. Eu troquei quatro vezes o lugar que eu estava, antes de sentar onde eu estava. Sentei ao lado do Djalma, cinegrafista da RBS TV. Lembramos de coberturas, histórias. E foi seguindo o papo. Até que em um determinado momento, perguntamos quanto faltava para as aeromoças, mas pela chatice do voo mesmo. A gente jamais imaginaria a pane seca – lembrou o jornalista, que teve sete costelas quebradas e recupera-se de uma cirurgia no pé.
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Henzel lembrou ainda da surpresa que teve ao retornar ao Brasil. Ainda dentro do avião, já em Chapecó e antes de ser levado ao hospital da cidade, pôde ver o filho, com quem falava apenas pelo celular desde a tragédia. Segundo o jornalista, o chefe da UTI da Força Aérea Brasileira foi quem organizou e levou o filho de Henzel até o seu encontro:
– Antes de sair da Colômbia, o chefe da UTI da FAB conversou comigo, disse que tem três filhos e se emocionou na minha entrevista para a Globo. Esse capitão me disse que eu veria o meu filho. A ideia era sair do avião e ir direto na ambulância. E o capitão trouxe meu filho. Quando ele subiu (na aeronave), foi emocionante. Ver pessoalmente, sentir aquele abraço do filho, depois de tanto... Eu sou um sobrevivente. Mas começamos a olhar o que aconteceu, o que poderia ter acontecido, a gente se desmancha, porque estamos voltando para casa – disse.
Sobre o momento exato em que a aeronave da LaMia bateu no Cerro Gordo, próximo a Medellín – o local passará a ser chamado Cerro Chapecoense –, Henzel garantiu que ninguém foi avisado de que o avião estava sem combustível e cairia em breve. Apenas o motor desligou, deixando o interior completamente escuro.
– Você imagina o que seguinte: está em uma estrada e o carro desliga. Eu fiz questão de conversar, dar entrevistas, porque não houve nenhuma informação por parte dos comissários para colocar cinto. Eu coloquei, e a maioria fez isso. Não houve correria, gritaria. Olhei na minha esquerda, a comissária estava junto. Ficamos em um mar à deriva. Mas não consigo precisar (o tempo) que durou. Falei para o meu colega ao lado que parecia que o pior tinha passado. Imaginava que logo retomaria os motores. Do Cerro Gordo, onde houve o acidente, até o aeroporto leva três minutos e meio. Faltou o piloto ter menos arrogância e pedir prioridade para pouso – disse Henzel, recordando ainda que pode ter sobrevivido por conta de estar na parte de trás do avião e o seu banco ter ficado preso em uma árvore, apesar dos outros dois que estivessem com ele terem perdido a vida.
Por fim, o jornalista se mostrou otimista em voltar ao trabalho. Disse que esperaria o ano que vem, mas que projetos já estão sendo feitos:
– Fiz uma cirurgia no pé, colocaram uns fios para fixar os dedos. Não é simples. Mas posso dizer que estou nos "por menores". Não vou voltar a trabalhar agora. Estou trabalhando em projetos para o ano que vem.
* ZHESPORTES