Um dos seis sobreviventes do acidente áereo da LaMia que levava a delegação da Chapecoense para Medellín, na Colômbia, que vitimou 71 pessoas, o jornalista Rafael Henzel deu uma entrevista coletiva na manhã desta segunda-feira, no Hospital da Unimed, onde deve ter alta à tarde.
Emocionado, Henzel disse que pretende cumprir todo o tratamento de fisioterapia mas pretende voltar a trabalhar na rádio Oeste Capital no dia 9 de janeiro e quer transmitir o primeiro jogo da Chapecoense em 2017, entre Chapecoense e Joinville, no dia 25 de janeiro, na Arena Condá, pela Primeira Liga.
O jornalista contou sobre os momentos antes do acidente, em que falavam que faltavam 10 minutos para pousar, que trocou quatro vezes do lugar, que as luzes do avião e as turbinas apagaram e que o avião não caiu e sim bateu num morro.
Lembrou que acordou pensando que era um sonho, viu algumas luzes e ao seu lado viu os colegas Renan Agnolin, da Oeste Capital, e Djalma Araújo, da RBS TV, já sem vida. Falou da emoção de reencontrar seu filho Otávio, de 11 anos, no aeroporto de Chapecó. E que a partir de agora não vai deixar se influenciar por pequenos problemas, não vai deixar de participar da vida da família mas também quer acompanhar todos os jogos da Chapecoense. Afirmou que sempre vai lembrar dos que se foram mas que espera um ano maravilhoso para o clube.
Veja os principais tópicos da entrevista:
SONHO INTERROMPIDO
Todos nós tínhamos um sonho que era chegar em Medellín, fazer um grande jogo, de mobilizar a cidade toda para ir a Curitiba no jogo de volta e participar desse momento tão importante da Chapecoense. É um sonho que foi interrompido. Para seis pessoas foi um período de muita luta, não foi fácil. Eu quero agradecer de coração o doutor Stakonski, o doutor Sonagli e o doutor Mendonça.
RETORNO
Dia nove de janeiro quero voltar a trabalhar. No dia 25 de janeiro quero narrar Joinville contra Chapecoense, naquelas cadeiras (da Arena Condá) se tiver dificuldade para caminhar por causa das lesões. Não quero saber, dia 25, pela Primeira Liga, vou estar lá. Não vou deixar passar. Tenho um dever muito grande com a comunidade de Chapecó que sempre acreditou. Vou acompanhar todos os jogos da Chapecoense. A gente tem um ano maravilhoso pela frente. A gente tem que enaltecer, tem que lembrar sempre dos que se foram, mas tem que dar um passo para frente. Eu quero ajudar dentro da minha limitação. Será um ano maravilhoso para todos nós.
FILHO OTÁVIO
Tinha duas pessoas com nome de Rafael (o outro era o fisioterapeuta Rafael Gobatto, que faleceu) e naquele caos minha família não conseguia confirmar quem tinha sobrevivido. Na hora do desespero da minha esposa meu filho (Otávio) batia no peito e dizia que sentia que eu estava vivo. Ele dizia que sentia que o meu coração batia no peito dele. Realmente eu estava vivo e lutando para viver. A gente conversava por rede, fazia vídeo mas evitava falar muito pois tinha muitas cicatrizes e não sabia a reação de uma criança de 11 anos. A gente criou uma ligação maior ainda. Tenho que agradecer ao capitão Motini que pegou meu filho e fez questão de levá-lo para a aeronave (na chegada em Chapecó). Quero que meu filho tenha a noção de que o pai dele lutou para estar aqui.
TROCA DE POLTRONA
Troquei quatro vezes de lugar no voo. A gente sentava no lado de um e conversava, sentava do lado do outro, todo mundo fazia isso. Sentei do lado do Djalma (cinegrafista da RBS) e aí veio Renan (colega na Rádio Oeste Capital) e sentou do meu lado porque o comissário disse que o Messi tinha sentado ali.
MOMENTOS ANTES DO ACIDENTE
Conversa vai, conversa vem, até que apagaram as luzes e as turbinas. Lembro que falei que pensava que o pior havia passado. Na minha cabeça iria retomar os motores. Não imaginava que tinha uma autonomia de voo. A comissária falava 10 minutos, 10 minutos, 10 minutos e por 10 minutos 71 pessoas morreram, pois esse era o tempo até o aeroporto.
APÓS O ACIDENTE
Quando acordei levei um susto. O avião não caiu, não despressurizou, não caiu máscara de oxigênio, absolutamente nada. Ele foi e bateu no morro, no cerro que agora será cerro Chapecoense. E pelo que entendi, por ter ficado na primeira parte, na parte de cima, aí o avião foi descendo o barranco. Despertei vendo algumas luzes. O Renan infelizmente estava na minha esquerda e o Djalma na minha direita. Não tinha mais ninguém ao meu redor a não ser os meus colegas. E o meu banco, onde estávamos os três, ficou intacto. Eu fiquei preso pelo cinto. E como se alguma coisa segurasse. Se não tivesse duas árvores talvez seríamos lançados. A primeira coisa que eu disse foi: - O que que é isso. Eu achava que era um sonho, que tinha adormecido e alguém iria chamar: - Chegamos.
SOCORRO
Quando vi os socorristas estava no alto. Chegaram e me retiraram por trás porque era muito alto. Lembro que pedi que avisasse a milha esposa. Havia uma extrema dificuldade, com barro, pedra, eles paravam pois eu era pesado, ouvia a camionete traçada. Chegamos num centro de atendimento e depois pensei que ira pegar um carro e andar mais 40 quilômetros até um hospital (distância de Medellín). Mas a gente não pode reclamar.
FUTURO
Agora um problema para mim terá que ser "O" problema. A gente reclamava de acordar com dois graus para fazer o programa (da rádio). Agora pode nevar. Também não vou deixar a vida passar. Não vou deixar de participar da vida da família, de demonstrar amor e carinho.