Longos meses de tensão e agonia para a imensa torcida colorada estão prestes a chegar ao fim neste domingo. Para o bem ou para o mal, pouco depois das 19h, horário que deve se encerrar o confronto contra o Fluminense, será definido o futuro do Inter em 2017 - se fica na série A ou se é rebaixado pela primeira vez em sua centenária história.
Mesmo que as probabilidades apontem para um possível rebaixamento, pela desvantagem e dificuldade na combinação de resultados - tem que vencer o Tricolor no Rio e torcer para o Sport não ganhe do Figueirense, em Recife - a torcida não desanima, guarda suas últimas esperanças e dá mostras que o amor pelo clube não termina jamais. Fomos atrás de três belas histórias de fé e esperança, que comprovam que o amor do torcedor pelo seu clube não termina jamais, e que nem os sucessivos erros de uma diretoria fazem os abnegados torcedores abandonarem o Clube do Povo.
"Me fecho no quarto, com tudo que é objeto do colorado que eu tenho"
– Essa situação que estamos vivendo agora, eu nunca tinha passado.
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É desta maneira que o colorado apaixonado, Leandro Carvalho Figueiró, 43 anos, morador do Bairro Tristeza, na Zona Sul da Capital, define a situação do seu time do coração. Para completar o quadro de agonia e desespero do torcedor, prestes a ver o time ser rebaixado pela primeira vez na história, seu cunhado, Cláudio da Silva, mora nos fundos de seu terreno. E é gremista.
– Depois da final da Copa do Brasil (na quarta-feira, contra o Atlético-MG), ele veio bater na minha porta, para tirar flauta. Eu disse: "cara, minha porta não tem nada a ver com isso (risos)". A rixa é bem grande. Mas ele é morador daqui, não tem como correr com ele daqui. Se pudesse, eu corria (risos) – afirma, em tom de brincadeira, o bem-humorado Leandro, que trabalha como serralheiro.
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"Tenho minhas manias coloradas"
Para domingo, o torcedor pretende reunir todas as suas manias, orações e boas vibrações para que o time escape da temida Série B. Primeiro, vai hastear a bandeira no quintal de casal. Depois, vai se trancar no seu quarto para assistir ao jogo. Sozinho.
– Eu tenho as minhas manias coloradas. Me fecho no quarto, com tudo que é objeto do colorado que eu tenho. Vejo (o jogo) sozinho, não gosto de ninguém dando palpite – comenta ele, que não pretende dividir o momento nem mesmo com a família - a mulher, Solange, 41 e os filhos, Leandro Junior, 22 e Jorge Neto, 19, todos colorados.
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Para aumentar o drama, Leandro terá que se dividir entre torcer para o time do coração vencer o Fluminense, no Rio de Janeiro, e ainda secar o Sport, que joga em casa, contra o Figueirense:
– Sabe que acho que vou prestar mais atenção no jogo do Figueira? Cara, o Fluminense deu férias para uns 12 jogadores. Se a gente não ganhar deles, tem que ser "birebaixado", ou até cair três vezes (risos).
Mas e se caso o tão temido rebaixamento venha, o que fazer?
– Eu vi meu time ser campeão invicto (no Brasileirão de 1979). Era pequeno, mas acompanhei vários jogos, e a final. Dali em diante, tudo que acontecer, o cara aguenta. Mas ainda tenho toda esperança que ficaremos na Série A, me apego em tudo – acredita Leandro.
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Para completar, ele lembra que fez uma aposta com o cunhado gremista. Se o Inter cair, ele terá que carregar Cláudio, por um bom trajeto no bairro, nas vistas de toda a vizinhança. E o pior: dentro de um carrinho de mão. Caso o colorado fique na Série A, o processo se inverte.
– Por via das dúvidas, já estou providenciando um carrinho de mão bom (risos) – afirma Leandro.
Em silêncio, sem corneta
Na Restinga, o motorista de ônibus André Luis da Silva Machado, 32 anos, vai reunir sua camisa, bandeira e uma penca de colorados para a última torcida pelo Inter em 2016. No sofrimento com o colorado amado, ele estará ao lado do irmão, Carlos Eduardo, do sobrinho, Matheus Wesley, do compadre, Diego, do primo, Jair, do filho, João Carlos e da mulher, Catarina. Ufa! Tudo para dar sorte ao time de coração. Mas se engana quem acha que o resultado de tanta gente assim é uma gritaria sem fim na hora do tão esperado jogo.
– Na real, eu não gosto de assistir o jogo com muito cara falando, criticando o time. Tem que torcer – afirma André.
Neste domingo, reunido com seu povo, ele reza para um "milagre", como define.
– Com a decisão do STJD (desfavorável ao Inter, no caso da suposta escalação irregular do zagueiro Victor Ramos, do Vitória), complicou, só um milagre. E um milagre que venha do Figueirense. Se eles empatarem, o Inter faz a sua parte – comenta o colorado.
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Queda não será por domingo
Consciente da má temporada que o Inter fez no Brasileirão, André guarda todas as suas esperanças para o último jogo, mas sabe que, caso venha o trágico rebaixamento, será pelo conjunto da obra.
– Se o Inter cair, a gente sabe que não será por essa rodada. Deixou escapar a chance em vários jogos, contra o Santa Cruz, Ponte Preta...
Em casa, no quarto, com o filho
Para o momento tão esperado, ele reunirá todos os seus artefatos do Inter: camisa, bandeira, toalha, faixa e tudo mais que encontrar em casa. Mas antes disso, ele já admite o nervosismo, e a dificuldade de dormir:
– Hoje (sexta-feira, quando a entrevista foi feita), eu estou mais tranquilo, o cara vai trabalhar, né? Mas no sábado, nem sei o que fazer. E domingo vou fazer aquele churrasco, dar uma relaxada pra tentar chegar calmo na hora do jogo.
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Mesmo com todo o medo de que o time do coração caia para a Série B "quando o pessoal tira flauta comigo na rua, brinco dizendo pra dizerem como é a Série B, que eu não quero sofrer tanto", Ademar acredita com muita fé que o time escapará no último jogo.
– Vou ver o jogo e ficar esperando as "bolinhas" (que aparecem quando acontece um gol em outra partida). Mas acredito na permanência. Só acredito no rebaixamento quando ele realmente acontecer. Só vendo para crer. Essa torcida não merece isso, apesar do que a nossa diretoria fez durante o ano – afirma, para complementar com ar de decepção, comentando as declarações de Vitorio Piffero e Fernando Carvalho após a tragédia com o avião da Chapecoense:
– Aquilo (as declarações) nos atingiu muito. Não tinha que falar aquilo em um momento desses. Fiquei triste e chocado.