Para os autores de uma das mais brilhantes páginas escritas no tênis brasileiro, as lembranças estão vivíssimas na memória. E nem poderia ser diferente. Em novembro de 1966, os ex-tenistas Thomaz Koch e Edison Mandarino derrubavam os Estados Unidos e avançavam às finais da fase Interzonal da Copa Davis. Depois de superar uma maratona de confrontos na Europa – a equipe brasileira disputava a chave do Velho Continente à época, a fim de facilitar a participação de seus tenistas em torneios tradicionais como Roland Garros e Wimbledon –, o país estava a apenas dois degraus do título da tradicional disputa por equipes. O Brasil nunca tinha chegado tão longe na Davis.
Para tornar a façanha de 50 anos atrás ainda mais especial, a dupla bateu os favoritos americanos em casa, em um estádio para 3 mil torcedores montado na Associação Leopoldina Juvenil, em Porto Alegre. E, para Koch, "jogar em casa" não foi força de expressão.
– Paulo da Silva Costa era o capitão da equipe brasileira e também o presidente da confederação de tênis. Ele optou por jogar aqui por entender que estaríamos mais familiarizados. Então, já que estamos em casa, vamos jogar em casa mesmo. Sempre morei em frente ao clube. Estava sempre aqui, era um rato de clube – lembra Thomaz, 71 anos, até hoje o brasileiro com melhor currículo na Davis – nem mesmo Gustavo Kuerten soma mais vitórias em simples e duplas na competição do que o gaúcho radicado no Rio de Janeiro há 40 anos.
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Nascido em Jaguarão, Mandarino já vivia à época em Madri com a mulher, a espanhola Carmen Hernandez Gomez, que conhecera em Paris, durante um coquetel oferecido a tenistas que participavam de Roland Garros (o casal chegou a competir em torneios de duplas mistas). Hoje com 75 anos, ele foi o herói da virada sobre os EUA, ao vencer seus dois jogos de simples, incluindo a quinta e decisiva partida da série, contra Dennis Ralston.
– Muitos não acreditavam que podíamos vencer (o Brasil chegou ao último dia perdendo o confronto por 2 a 1). Tanto que tinha pouco público no jogo do Thomaz. Depois, quando viu pela TV que dava ganhar, a torcida foi aparecendo – lembra Mandarino, com forte sotaque "portunhol" cultivado em 52 anos na Espanha.
A vitória que poucos apostavam foi comemorada em quadra pelo público e em carreatas por ruas da cidade. Mas não pense que o feito rendeu à dupla recompensas na conta bancária. Eram tempos de amadorismo no tênis, distante das cifras milionárias distribuídas a astros como Roger Federer e Novak Djokovic. A dupla até hoje se diverte com uma passagem. O país que sediava os jogos costumava oferecer presentes aos tenistas após o encerramento do confronto.
– Pensei: "Vai pintar um relógio para o Mandarino. Legal, ele merece". Aí aparece um cara com uma melancia, achando que era o melhor negócio do mundo, porque soube que o Mandarino gostava de melancia – lembra aos risos Thomaz, abrindo os braços para mostrar o tamanho da fruta oferecida ao amigo. – Foi uma decepção. Já que não tinha grana, que pelo menos viesse um presente legal.
Para comemorar o feito, a Associação Leopoldina Juvenil reuniu a dupla, homenageada na noite de ontem em um evento no clube que reuniu diferentes gerações de atletas.
*ZHESPORTES