A casa da família Gulart-Leal é a única que terá, no GP Bento Gonçalves, chances dobradas de sair com a vitória. Quando for dada a largada para a 108ª edição do páreo mais tradicional do turfe gaúcho, o casal formado pela joqueta Josiane Gulart, 31, e o jóquei Vagner Leal, 34, irá se separar por alguns instantes. Cada um montará um cavalo diferente em busca do prêmio, enquanto a pequena Heloísa, a filha de apenas cinco meses, fica sob os cuidados de uma amiga.
– Em vez de ter uma chance, temos duas. É assim que a gente pensa, principalmente em uma prova tradicional como o Bento, que todo o jóquei quer vencer – destaca Josiane, campeã do Bento em 2013.
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Gaúchos – ela de Carazinho, ele de Pelotas –, Josiane e Vagner se conheceram em São Paulo. Já tinham carreira estabelecida no turfe. O contato com os cavalos veio cedo. Josiane é de uma família ligada intimamente com os páreos. "Cresceu em cocheira", como diz. É filha de um treinador e irmã de um jóquei. Aos 12 anos, já montava em corridas de cancha reta.
Vagner se apaixonou sozinho pelas corridas de cavalo. Começou aos 16 e, dois anos depois, já estava em São Paulo para se aprimorar na escolinha do Jockey Club local. Josiane foi para o Rio de Janeiro, mas o convite de um proprietário de um cavalo para se mudar para a capital paulista a seduziu.
Entre 2005 e 2006, o futuro casal se conheceu. A relação foi de colegas de trabalho por muito tempo. Transformou-se em namoro e casamento há apenas quatro anos, em 2012. Antes disso, já estavam acostumados a se enfrentar.
– Sempre foi muito difícil porque ela é muito competitiva – elogia Vagner, campeão do GP Brasil de 2007.
A situação se tornou tão comum que Josiane perdeu a conta de quantas vezes correu contra o marido, antes e depois do casamento. Destaca, porém, que há um respeito mútuo importante para preservar a relação em casa:
– Já aconteceu de ele vencer um grande prêmio em que a minha égua era muito favorita. A dele, não. Ele sabia que eu estava chateada e nem comemorou na hora. Viu que era um momento de alegria dele, mas também de tristeza minha. E já aconteceu o contrário, de eu vencer quando ele era favorito. Tive a mesma reação.
Já Vagner lembra que nem sempre as disputas nos hipódromos ficam apenas na pista.
– Às vezes a gente acaba trazendo alguma coisa para dentro de casa, fica um brabo com o outro. Mas a gente sabe administrar bem esse lado. Nunca foi um problema grave.
Do ano passado para cá, a vida do casal se transformou. Primeiro, a mudança para o Rio de Janeiro, precipitada por um momento de crise do Jockey Club de São Paulo. Josiane e Vagner viram com preocupação o cancelamento de páreos e a precarização da estrutura. Perceberam que a melhor saída era se reacomodar na capital carioca. Lá, há corridas quatro vezes por semana.
Neste ano, com o casal já instalado no Rio, nasceu Heloísa. Josiane, que chegou a montar grávida de dois meses, não demorou muito a retornar. A cicatrização rápida da cesárea a ajudou. Dois meses e meio depois do nascimento da filha, já estava de volta.
– A volta foi ótima. Não senti dor em nenhum momento – comemora.
Para seguir viajando e competindo, conta com a ajuda da mãe, dona Marli, que costuma cuidar da filha no Rio para que a filha e o genro viajem em busca de mais prêmios. O Bento, porém, será especial.
Heloísa vai desembarcar em Porto Alegre junto dos pais neste sábado. Ficará com uma amiga do casal enquanto Josiane e Vagner se digladiam no mais importante grande prêmio do Estado em que nasceram. Será a primeira vez em que se enfrentam no cobiçado Bento, e terão um bom motivo, com suas generosas bochechas e riso contagiante, para não levar algum desaforo da pista para casa.