Número 1 do ranking brasileiro amador de golfe, o gaúcho Herik Machado está de volta a Porto Alegre depois de levantar um dos troféus mais importantes de sua promissora carreira.
Na última sexta-feira, o atleta nascido há 19 anos em Santana do Livramento, na Fronteira Oeste, conquistou o título da categoria até 21 anos do Faldo Series Grand Final, a final mundial do circuito de golfe juvenil. No torneio disputado em Colchester, na Inglaterra, Herik também foi vice-campeão da categoria geral, empatado com um adversário americano e outro inglês.
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Agora, as tacadas certeiras do jovem golfista tentam contornar um dos obstáculos mais comuns e não menos difíceis para atletas em geral no Brasil: a falta de incentivo. Para competir em torneios do concorrido e milionário circuito profissional, Herik precisa de ao menos um patrocinador para bancar custos como passagens aéreas e hospedagem.
O atleta de origem humilde – que ingressou no sofisticado universo do esporte como "gandula" e depois caddie (responsável por carregar bolsas com tacos do golfistas) no Clube Campestre de Livramento – calcula que seriam necessários de R$ 8 mil a R$ 9 mil por participação em eventos na América Latina.
Atleta do Belém Novo Golf Club há cerca de um ano, Herik vive de um incentivo "bem legal" – como diz – do clube e de verba do Bolsa Atleta, do Ministério do Esporte. Ele conta que tem recebido cada vez mais conselhos para abrir mão da carreira profissional, em razão da baixa visibilidade da modalidade no país. A opção seria continuar no circuito amador, onde reina no Brasil e é o atual 275º do ranking mundial.
Convocado pelo clube e pela Confederação Brasileira de Golfe, Herik disputa cerca de 20 torneios por ano, em média, no país e no Exterior. Seu talento com os tacos já o levaram a nove países, entre eles Estados Unidos e Japão. Mas o sonho de se tornar profissional permanece aceso.
– A gente sempre tem de correr atrás do nosso objetivo. De onde eu saí, sou um vencedor. Se eu jogasse futebol ou outros esportes, poderia estar melhor. Mas amo o golfe – diz Herik.
A seguir, leia trechos da entrevista concedida a ZH por telefone:
Como estão os teus planos de se tornar um golfista profissional?
Depende muito... Eu posso até virar profissional agora, mas preciso ter um patrocínio para poder chegar a algum torneio, a algum tour. Sozinho, não tenho condições (de bancar os custos de passagens aéreas e hospedagens, entre outras despesas). Gostaria de participar de torneios na América Latina.
Qual é a maior dificuldade para conseguir patrocinador?
Quase todo mundo me dá dicas para não virar profissional. Por quê? Porque no Brasil é bem difícil (ser golfista profissional), e estou indo bem como amador. No Brasil, não tem patrocinadores dispostos a investir no golfe, porque o esporte não é conhecido. Até estou perdendo a vontade de virar profissional logo. Vou continuar jogando como amador por mais um tempo.
Qual é vantagem de ser amador, no teu caso?
Agora sou convocado para vários torneios. Porque sou o 1º do ranking nacional a também o primeiro golfista do Brasil no ranking mundial.
Caso não surja patrocinador, já pensaste em dar um "peitaço" e tu mesmo bancar os gastos para participar do circuito profissional?
Sim, eu já pensei. Caso passar algum tempo, eu vou dar um jeito de me virar. Porque é um sonho, né, tenho de correr atrás.
E tu fixas um prazo para isso ocorrer?
Imagino que dois anos, no máximo.
Agora está surgindo um menino, o Andrey Xavier, que também é de Santana do Livramento e está despontando no mesmo clube em que tu surgiste. O que explica esse sucesso de vocês? É o churrasco que vocês comem na Fronteira...
O pessoal diz que é a água (risos). Imagino que foi o jeito que a gente aprendeu a jogar. Aprendemos a jogar com um cara (Thomaz Guilherme Neves) que conhece muito golfe e que nos desafiava. Quando a gente ia jogar com ele, ele ficava te "tirando", te deixando brabo? O golfe é concentração. Então ele testava a nossa concentração para ver se a gente sairia do jogo fácil.
*ZHESPORTES