A explicação mais comum dos comentaristas para a convocação de Giuliano, logo na primeira lista de Tite, era sua possível "importância tática". Descrever um jogador assim costuma ser a senha para indicar que, tecnicamente, ele não serve. Mas o novo técnico do Brasil goza de tanta moral que a inclusão um tanto estranha do ex-gremista passou sem maiores críticas. Agora, com Giuliano a decidir jogos semana após semana no Zenit-RUS – e mostrando muito mais do que disciplina tática –, ele muda de patamar e ganha, no jogo desta quinta-feira contra a Bolívia, a chance de ser titular da Seleção.
O meia deve ser o escolhido para a vaga do suspenso Paulinho na partida das 21h45min, na Arena das Dunas, em Natal. Casemiro, outro desfalque em relação à equipe que venceu os dois primeiros jogos com o novo treinador, será substituído por Fernandinho.
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A passagem de Giuliano pelo Grêmio não correspondeu plenamente às expectativas do torcedor. Nunca foi o protagonista que se imaginava no momento da contratação, mas teve importância inquestionável nos melhores momentos do time montado por Roger Machado. Tanto que a derrocada que culminou na saída do treinador teve início a partir de sua saída.
Giuliano, por outro lado, cresceu. Na Rússia, tem sido a referência técnica que se projetava quando foi trazido para a Arena. Qual a diferença? Em parte pode ser uma questão de confiança, mas há também uma mudança de posicionamento. Na Europa, não tem jogado tão aberto pela direita, na sacrificante função que exige múltiplas tarefas como marcar o lateral adversário e entrar na área para finalizar. Foi trazido um pouco mais para o meio pelo técnico romeno Mircea Lucescu. No 4-1-4-1, atua na segunda linha de quatro, mas não rente à linha lateral. Em resumo, ocupa exatamente o mesmo lugar que Paulinho preencheu contra Equador e Colômbia.
As escolhas de Giuliano e Fernandinho, aliás, denunciam o nível de conhecimento de Tite sobre seus comandados. O ex-gremista é o "Paulinho do Zenit". Assim como Renato Augusto estará ao seu lado nesta noite, ele tem o belga Witsel como parceiro na Rússia. Se olhar para a esquerda, verá Neymar onde fica Mak. Na direita, Philippe Coutinho onde estaria Kokorin. Na frente, poderá esticar um lançamento para Gabriel Jesus com a mesma naturalidade com que aciona Dzyuba. Já Fernandinho se posicionará à frente da área e dará proteção a Giuliano e Renato Augusto, assim como faz com De Bruyne e David Silva no Manchester City.
Em um time azeitado, com as peças colocadas nos lugares certos, Giuliano tende a mostrar, no melhor sentido da expressão, sua "importância tática". Ou, como se vê em sua fase brilhante na Rússia, pode ser muito mais do que isso.
*ZHESPORTES