Levar 13 a 0 do Novo Hamburgo no sábado, embora o inusitado do placar, não destoou do que foi o Sapucaiense em 2016. O clube passou os últimos meses levando gols em dúzias. Em 20 jogos pela Segundona e pela Copa Caçapava, sofreu 82 e fez apenas sete. A matemática cruel segue com 18 derrotas, um empate e só uma vitória. A contabilidade expõe um clube e sua luta para sobreviver à sombra da Dupla na Região Metropolitana.
– Sinceramente, perdi a conta. Me virava para sentar na casamata e saía um gol. O primeiro tempo acabou 10 a 0 – conta o técnico Alcione Zeferino, por telefone.
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– Mas o primeiro tempo acabou 9 a 0 – corrijo.
– Acho que foi 10. Nem me lembro direito. Mas técnico nenhum faz milagre – avisa Zeferino.
Aos 65 anos, rival de Valdomiro nos tempos de jogador em Santa Catarina e treinador com rodagem por clubes pequenos, Alcione admite: chegou em casa abalado no sábado, embora o desfecho fosse previsível. Assumiu em 1º de agosto sem promessa de salário ou jogador. Esperavam-no no vestiário juniores e poucos remanescentes da campanha de 10 derrotas, 42 gols sofridos e dois a favor na Segundona. Zeferino saiu à cata de jogadores que também topassem trabalhar sem salário. Nesses dois meses, foi técnico, treinador de goleiros, preparador físico e gerente de futebol.
Dos jogadores, quem veio, foi por amizade e também pela chance de aproveitar a chance. Caso do zagueiro Kemeron, 21 anos. Estudante de Engenharia Civil na Unilasalle, assinou para retribuir favor antigo de Zeferino e pela vitrina. Estava sem jogar havia dois anos, por lesão no joelho, o que ficou agravado com a ausência de preparador físico.
– O Anderson Silva, nosso meia, é formando em Educação Física e dava o aquecimento para alguns jogos – conta Kemeron.
Os jogadores se engajaram.
O volante Richard levava os uniformes para lavar em algumas ocasiões. Luciano, atacante e cabelereiro, dividia a rotina de treinos com o salão de beleza. Havia dias em que a jornada no trabalho impedia alguns de treinar. Quando chovia, o treino era suspenso. A última semana foi agravada pela desmobilização. O time perdeu cinco titulares para encarar o Novo Hamburgo.
O presidente José Luis Christianetti comandava o clube em 2008, na época dourada, do sexto lugar no Gauchão. Voltou em 2013 para salvá-lo da falência. A dívida ultrapassava os R$ 3 milhões e havia 42 ações trabalhistas. Hoje, restam quatro ações, e a dívida está pela metade.
O estádio, no centro de Sapucaia do Sul, foi a leilão cinco vezes.
– A meta é sanar a situação financeira. Outras pessoas acharam por bem tocar o futebol da forma que desse. Os resultados foram de acordo com o investimento: nenhum – diz Christianetti.
O plano é vender o estádio, avaliado em R$ 8 milhões, e construir um novo fora da cidade, para 5 mil pessoas. Em 2017, só haverá time principal se surgir um parceiro ou investidor. O presidente se diz cansado de tantas goleadas (na Segundona, levou duas vezes 8 a 0 e uma vez 7 a 0).
– Temos mais de cem guris dos 12 aos 19 anos. A minha preocupação é só social, dedico parte do tempo para fazer algo em prol da cidade – justifica o presidente do clube.