Uma certa tensão surgiu neste sábado entre Europa e América do Norte, fruto de um pedido que teria sido enviado pelas agências antidoping americana e canadense pela exclusão total de todos os atletas russos dos Jogos Olímpicos do Rio, baseado em relatório que será divulgado nesta segunda-feira.
O presidente dos Comitês Olímpicos Europeus (EOC), Pat Hickey, se declarou "chocado" pela iniciativa de banir todos os esportistas russos, e não somente os atletas do atletismo, dos Jogos do Rio de Janeiro.
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Em comunicado, Hickey explicou ter sido informado deste pedido via e-mail por Beckie Scott, presidente da comissão de atletas da Agência Mundial Antidoping (Wada), mesma entidade que encarregou o professor Richard McLaren de investigar o suposto doping em massa organizado pelas autoridades russas durante os Jogos de Inverno de Sochi-2014.
Neste e-mail, Scott pediu a assinatura de uma carta de autoria das agências antidoping americana (Usada) e canadense buscando o aval do presidente do Comitê Olímpico (COI), Thomas Bach, para a exclusão integral da Rússia nos próximos Jogos Olímpicos.
"Este e-mail me chocou em diversos níveis. Primeiro, porque parece haver uma tentativa de acordo a favor de uma punição (contra os russos) antes mesmo de todas as provas serem apresentadas. Uma intervenção desta importância, antes da publicação oficial do relatório McLaren, é contrária a todos os princípios do direito a um processo justo e poderia minar totalmente a credibilidade deste importante relatório. Este pedido se baseia no que estas agências antidoping afirmam ser a conclusão do relatório McLaren (...) É evidente, então, que a independência e a confidencialidade deste relatório estão comprometidas", insistiu o presidente do EOC, em comunicado.
Segundo ele, três agências antidoping europeias teriam sido comunicadas para assinar esta carta: "É evidente que apenas os entidades que apoiam a exclusão total da Rússia foram contactadas".
Travis Tygart, chefe da Usada foi procurado pela AFP, mas não foi encontrado para comentar ou confirmar as informações e acusações neste sábado.
Em seu blog pessoal, Paul Melia, presidente da agência canadense antidoping, se mostrou mais contido do que na suposta carta, afirmando que apoiaria a exclusão da Rússia dos Jogos-2016 caso a investigação de McLaren confirmar na segunda-feira a existência de um sistema de doping encoberto pelo Estado russo.
"Momento determinante para o esporte", escreveu.
Segundo as acusações de Grigory Rodchenkov, ex-chefe do laboratório antidoping russo, ao New York Times em maio, dezenas de atletas russos, incluindo 15 medalhistas olímpicos, teriam se beneficiado de um sistema de doping organizado e supervisionado por Moscou durante os Jogos de Sochi.
- O relatório (McLaren) poderia traçar um retrato sem precedentes de corrupção apoiado pelo Estado e de subversão do sistema antidoping - explicou Melia.
- Trata-se de um momento determinante para o esporte internacional. A maneira como o COI lidará com este caso determinará a herança dos Jogos Olímpicos - concluiu o dirigente canadense.
A federação russa de atletismo está atualmente suspensa desde novembro pela federação internacional (Iaaf) devido às revelações de práticas de doping. Em resposta, 68 atletas russos apresentarão apelação ao Tribunal Arbitral do Espote (TAS) para ganhar o direito de disputar os Jogos a título individual. O TAS dará seu veredito até 21 de julho.