O Vôlei Canoas, tetracampeão gaúcho, aposta na força de futuros acadêmicos para fazer história na Superliga 2016/2017. O que para o clube criado em 2011 significa ir além das quartas de final.
O grupo formado para a temporada, de 13 atletas, conta com quatro universitários e outros sete que enfrentaram, antes mesmo da apresentação do time, o primeiro desafio da temporada, o vestibular do Unilasalle.
Graças à parceria entre o clube e a instituição, os jogadores aprovados no vestibular ganharão bolsa integral. O Canoas é a única equipe da Superliga masculina que banca curso superior para os atletas que quiserem estudar. Os jogadores não perderam tempo. As opções de curso no vestibular partiram da Educação Física, previsível para um atleta, até Design Gráfico e Engenharia Mecânica.
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Apesar da dificuldade de conciliar treinos e estudos, o oposto Lucas Thomaz Ribeiro, 22 anos e 2m, ressalta a importância da formação acadêmica. Lucas veio da base do Sesi-SP e estava no Santo André-SP. No ABC Paulista, também estudava. Aqui, passou em primeiro lugar geral no vestibular. Em São Paulo, fazia curso técnico e tinha de arcar do próprio bolso.
– A vida de atleta não continuará para sempre. Temos de ter outras oportunidades para quando pararmos de jogar. Escolhi engenharia (mecânica) porque é o curso com o qual tenho mais afinidade. No colégio, sempre fui bom em matemática. Não faço Educação Física porque quando parar, não quero continuar no meio do vôlei – explica o atleta.
Treinador segue exemplos de fora
Para não comprometer as aulas, o técnico Marcelo Fronckowiak adaptará os horários e dias de treinos. Prestes a iniciar o quarto semestre do curso de Marketing, ele se espelha em times da Europa e dos EUA para que seus atletas tenham algo a mais a oferecer além do rendimento dentro da quadra. Fronckowiak cita o exemplo da seleção feminina de vôlei dos EUA, que acaba de ser vice no Grand Prix (perdeu a final para o Brasil). Na equipe, quase todas as jogadoras estão na faculdade.
– Quanto mais o cara estuda, mais entende o jogo. Tenho de contar com a capacidade dos meus atletas para compreender as táticas que proponho. No Brasil, temos a tendência de apressar demais as coisas. O esporte acaba sendo o fim e não o meio. Em virtude de problemas econômicos, os jovens pulam etapas e perdem a formação acadêmica.
Nos tempos de atleta, o técnico atuou na França. Marcou-lhe que os clubes ajustavam o horário de treino ao das aulas de alguns de seus companheiros de time. Fronckowiak trouxe de lá a certeza de que é necessário conscientizar os jogadores a buscarem outros meios que não apenas o esporte.
– Caso sofram alguma lesão grave, eles têm alguma outra alternativa para tocar a vida – observou Fronckowiak, único que participou de todos os títulos gaúchos na Superliga.
Segundo Ivan Cesar Mezzomo, psicólogo e sócio-proprietário do Instituto Neuro Feedback (tecnologia que, entre outros trabalhos, monitora a atividade cerebral), o fato de o atleta de alto nível fazer um curso superior reflete diretamente no seu desempenho esportivo.
– Para os atletas desenvolverem a parte estratégica de jogo, têm de trabalhar o (córtex) pré-frontal, que ajuda o sistema límbico (unidade do cérebro responsável pelas emoções e comportamentos). Isso faz com que aumente de forma considerável o foco do jogador na hora de entender a tática, refletindo em melhor leitura do ambiente e na compreensão cognitiva – explicou Ivan.
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Desde 3 de abril de 2007 o Rio Grande do Sul não disputa nada mais importante do que uma semifinal de Superliga. O último título gaúcho na competição nacional foi com a Ulbra, na edição de 2002/2003. Na ocasião, a equipe de Canoas, comandada por Marcelo Fronkowiak (foto), chegou ao tricampeonato após vencer o Unisul, de Santa Catarina, na final por 3 jogos a 0.
*ZHESPORTES