Na infância de Tite em São Braz, quando ele não estava chutando uma bola, a brincadeira predileta era seguir as peripécias da irmã Beatriz Bachi, quase três anos mais velha.
– A criançada gostava de brincar no sino da igreja, e Tite estava sempre junto. O sino ficava entre a igreja e o puxadinho que a gente morava. Todo mundo adorava se pendurar naquela corda – conta a irmã, que completa 58 anos no próximo dia 25 de julho.
Até os 11 anos, Adenor Leonardo Bachi fazia apenas coro na torcida do pai Genor, que jogava no time principal e era um dos destaques do Juvenil. A família saía de Lourdes todos os finais de semana com destino a São Braz, e lá no campinho da Fonte Nova vibrava com os gols do volante esguio e bigodudo.
– Era o nosso programa de domingo. O pai tinha uma Kombi e carregava toda a molecada, incluindo vizinhos e primos. A gente terminava de almoçar e aquela Kombi saía lotadíssima da Sinimbu. A torcida era grande. Eu e minhas tias tínhamos até bandeirinhas para torcer pelo pai. Era uma bagunça bem legal – relembra Beatriz.
Ela chegou a ver o irmão dar os primeiros chutes no futebol com a camisa do Juvenil:
– O pai era titular, e o Ade só entrava de forma esporádica. Ou no final do jogo ou se alguém faltava ou se machucava. Depois, quando o pai parou de jogar no time titular e virou técnico, o meu irmão começou a entrar cada vez mais. Os dois jogaram juntos no segundo quadro e o pai marcava muitos gols, principalmente de cabeça.
O pai era grandão e o filho demorou para espichar.
– O pai era alto e magérrimo. O Ade demorou para crescer, mas era entroncado. Depois, com 12, 13 anos, espichou de vez. Eu e o Miro, que é o caçula (hoje tem 50 anos), crescemos muito mais rápido do que o Ade, éramos uns sarrafos. Eu até brincava com ele e o chamava de Mazzochi, porque a mãe sempre foi a mais baixa da família. Os Bachi eram mais altos. O Ade ficava muito brabo – revela a irmã.
No segundo e, depois, no primeiro quadro do Juvenil, Ade, já espichado, chamava cada vez mais a atenção no meio-campo da equipe de São Braz. E, muitas vezes, infernizava os marcadores adversários.
– Eu lembro de o pai defender o Ade de uma forma até forte porque alguns se provaleciam pelo tamanho dele. O pai não era de briga, não se envolvia, isso que lá dava muita briga. Mas quando alguém chegava forte no meu irmão, o pai se colocava na frente dele e com imposição. Era até surpreendente para quem o conhecia, mas ele queria salvar o Ade – recorda Beatriz, que hoje trabalha numa loja de vestuário na Avenida Júlio de Castilhos.
A origem das famílias Mazzochi, Bachi e do irmão vem à tona nas lembranças de Beatriz com a ida de Tite para a Seleção Brasileira. A emoção parece aflorar o sentimento nacional:
– Uma das minhas duas filhas resumiu o termo que eu queria encontrar e não conseguia: "É surreal". Uma pessoa tua, tão próxima, tão querida, lá na Seleção. A gente vê na televisão que ele está na Seleção e parece que isso é fora da nossa realidade. Mas não é, ele é da nossa família, da nossa terra. Ele me disse que quando viesse para cá, me daria um abraço bem forte. Foi emocionante.