Há muitos anos começo a ler o jornal pelas opiniões dos leitores. Sua Majestade, o Leitor, como ensino aos meus alunos de oficina literária. E explico: tudo o que escrevemos só ganha vida através da leitura de alguém.
Jean-Paul Sartre (com a autoridade de quem recusou um Prêmio Nobel de Literatura) afirmou em uma de suas últimas entrevistas: “Eu e a Simone de Beauvoir escrevemos para os leitores. Ou seja, todos escrevemos para sermos lidos. Se você parar de ler esta crônica, ela morre imediatamente”.
Digo isso porque, sem conhecer o advogado Valdir Von Mühlen, quero endossar sua opinião publicada em ZH de 22 de junho de 2016, quase um cochicho no ouvido do novo técnico da Seleção: “Tite, os brasileiros estão ansiosos por mudanças. Por que não aproveitar e fazer uma Seleção somente com jogadores que atuam no Brasil?”
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Ou seja, por que insistir com jogadores meio despatriados, novos ricos que só têm compromisso verdadeiro com o clube que os sustenta com milhões de euros? Brasileiros que vivem fora da realidade do Brasil e continuam a nos envergonhar, na maior impunidade, porque sabem que vão embarcar para a Europa no outro dia e nos deixar aqui com todos os nossos problemas?
Eduardo Galeano esclareceu uma dúvida que milhões de brasileiros tinham em relação à derrota para o Uruguai, na final da Copa do Mundo de 1950, no Maracanã. Jogando com valentia e muito bom futebol, Obdulio Varela e seus capitaneados fizeram menos faltas do que os jogadores do Brasil nos 90 minutos. Nós não perdemos para eles, foram eles que ganharam de nós. Mas por 2 a 1, apenas. Não é verdade que tenhamos passado vergonha. Vergonha é ser goleado por 7 a 1 para a Alemanha, pegar o primeiro avião para bem longe e deixar nossas crianças chorando, vestidas de verde amarelo.
Mas duvido que Tite pense um segundo sequer nessa alternativa proposta pelo leitor. Mesmo sabendo que o novo patrão dele ama tanto o Brasil a ponto de não viajar nunca para o estrangeiro...
O novo técnico seguirá convocando os mesmos profissionais que jogam fora do Brasil (ou jogam fora o Brasil) porque nós, brasileiros, não estamos assim tão ansiosos por mudanças. Isso porque essas mudanças, nas democracias, só se fazem através do voto. E, a poucos meses da primeira eleição depois da Operação Lava-Jato, exatamente a mais importante delas, a municipal, o silêncio é constrangedor.
*ZHEPORTES