O lateral-esquerdo preferido de Roberto Mancini espera em Caxias do Sul pela definição do seu futuro. Alex Telles, 23 anos, curte na Serra as férias sem saber ainda onde jogar a partir de julho. Até o final do Campeonato Italiano, ele estava emprestado pelo Galatasaray à Inter, de Milão. Como Mancini, o técnico, foi quem o levou para Istambul e, depois, para a Itália, tudo indicava que ele seria comprado. Só que a Inter, desde esta terça-feira, tem um novo sócio majoritário, o grupo chinês Sunning. E o futuro de todos no clube se tornou incerto.
Alex Telles ainda se assusta com a ascensão fulminante. Em janeiro de 2013, desembarcou na Arena recém-inaugurada. Semanas depois, atuava como titular no primeiro jogo oficial do Grêmio no estádio, contra a LDU. Em três anos, foi eleito melhor lateral-esquerdo do Brasileirão, campeão turco, jogou duas Liga dos Campeões e um Campeonato Italiano. Ele mesmo se surpreende com a rápida caminhada do Alfredo Jaconi até a Europa:
– Pensar que em 2012 eu estava chegando ao Grêmio e, apenas três anos depois, aconteceu tudo isso.
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Mesmo com tanta velocidade, Alex Telles parece sem desassombro. Mais do que isso, mostra-se um sujeito maduro e compreensão das mudanças que o destino ofereceu. Em campo, virou um lateral-esquerdo mais marcador. Acrescentou à potência ofensiva um sentido tático. Fruto dos treinos diários de posicionamento de Mancini – complementados por, pelo menos, duas sessões semanais de vídeos esquadrianhando os adversários e orientando como marcá-los. Na Inter, Alex fez 21 jogos como titular na temporada. O que é considerado um número satisfatório para a primeira temporada. Na Itália, o jogador é considerado pronto pelo técnico a partir dos 25, 26 anos. É quando começa a jogar com mais efetividade.
– O Mancini gosta muito de mim, foi ele quem me indicou ao Galatasaray em 2013 e, depois, à Inter de Milão. É um técnico que exige muita aplicação tática. Aprendi muito em relação a isso na Europa. No Brasil, era um lateral preocupado primeiro em atacar. Agora, penso primeiro em defender e sair na hora adequada – explica Alex.
Os três anos no futebol europeu trouxeram ainda a convivência com craques de renome mundial. Snejder virou espécie de padrinho no Galatasaray. Como o holandês fala quatro idiomas, entre eles o espanhol, por ter atuado no Real Madrid, a comunicação ficou fácil – e foi azeitada pela parceria no lado esquerdo do campo. No Galatasaray, também aprendeu com Drogba. Impressionava-o a dedicação do marfinense. Mesmo consagrado e na reta final da carreira, ficava atue duas horas depois do treino em campo, em trabalho de conclusões. Por algumas vezes, Alex Telles o acompanhava. Ajudava com cruzamentos para a área e aproveitava para calibrar o pé nas cobranças de faltas.
Fora de campo, Alex também aproveitou a Europa. Na Turquia, conheceu a fundo Istambul, a capital com porções na Europa e na Ásia, dividida pelo Estreito de Bósforo. Assustou-se com os atentados e carros-bombas que explodiram pouco antes de chegar a proposta da Inter. Na Itália, rodou por Milão e arredores e aproveitou as folgas estendidas para conhecer as principais cidades do continente. Estava em Paris quando o Estado Islâmico assombrou o mundo com o atentado em Bruxelas.
– É assustador quando você está a poucas horas do local em que acontece um atentado desses. A sensação de insegurança é absurda. Lembro de que estávamos em Paris, mas ao ver as notícias sobre Bruxelas, o passeio ficou sem sentido. Antecipamos a volta para Milão – conta o lateral-esquerdo.
Alex Telles mostra eloquência incomum para os padrões de jogadores. Principalmente quando o assunto foge da pauta do futebol, como nesse caso da onda de atentados. Aliás, essa conexão dos companheiros de vestiário com a realidade o impressionou. Ela se reflete também no campo, com os jogadores engajados no aspecto coletivo do time. Um caminho que o futebol brasileiro ainda precisa percorrer.
– Isso tudo deve ser trabalhado na categoria de base. Eu tive isso, mas contei com a sorte de ter crescido em um clube como o Juventude, de excelência na formação – observa.
Neste sábado, a partir das 11h, Alex Telles coloca em campo essa consciência coletiva. Mas por uma causa que vai além do futebol. Ele e Gustavo Campanharo, volante também formado no Juventude e hoje no Evián-FRA, receberão convidados como Taison, Washington e Rômulo para um jogo beneficente. O evento começará às 11h no Campo do Minuano, em Fazenda Souza, distrito de Caxias do Sul. O ingresso será um quilo de alimento não perecível. Para ajudar que mais precisa neste inverno, explica Alex Telles, o lateral-esquerdo que ganhou mundo sem se esquecer de Caxias do Sul.
*ZHESPORTES