Quando o juiz apitar o início de jogo entre Santos e Audax neste domingo, na Vila Belmiro, muitos torcedores verão 22 jogadores vestidos de preto e branco. De um lado, 11 santistas, incluindo um trio ofensivo de Seleção Brasileira – Lucas Lima, Ricardo Oliveira e Gabigol. Do outro, 11 audaciosos jogadores com o rótulo de zebra tentando fazer história.
Os números mostram, no entanto, que do animal listrado o time não tem nada. O Audax que eliminou São Paulo e Corinthians acertou 93% dos passes que deu no Paulistão. É a equipe que mais tem finalizações certas a gol. É o segundo clube que menos cometeu faltas – só atrás do Novorizontino – e não teve nenhuma expulsão no campeonato. E, claro, tem jogado muito.
O arquiteto é um ex-jogador de Corinthians e Flamengo chamado Fernando Diniz. Formado em psicologia, o treinador de 42 anos está no clube desde 2013. Só saiu no segundo semestre passado, quando comandou o Paraná na Série B do Brasileirão. Prioriza o toque de bola. Odeia chutões. Exige marcação alta e troca constante de posições. Faz com que o goleiro jogue como líbero. E repete sem parar que o jogador deve ser tratado com amor e não só com bronca.
– Eles (jogadores) ralam muito, são cobrados ao extremo, mas são amados ao extremo também. Essa relação é a mola mestra do trabalho e precede a questão tática. Todos trazem um craque dentro de si, e a gente procura acender a chama – disse Diniz em entrevista ao programa Bate Bola, da ESPN.
Mas o sucesso do conceito tem um pilar: repetição. Há dois anos, o time estreou na primeira divisão paulista levando 4 a 0 do São Paulo no Morumbi. Em 2015, mais uma goleada contra o tricolor pelo mesmo placar. Neste ano, porém, fez 4 a 1 no tricampeão da Libertadores nas quartas e, desde então, virou uma sensação.
O grupo é formado, em sua maioria, por desconhecidos. Mas pelo menos um terço dos jogadores já disputa o Estadual pela segunda vez. As categorias de base são a força de garimpo do Audax, em um processo que começa com a famosa peneira e passa até por auxílio alimentação, plano de saúde e aulas.
A folha salarial gira em torno de R$ 350 mil. O maior salário está na casa dos R$ 20 mil, mas depende de metas individuais de produtividade. Entre as estrelas, estão jogadores como Tchê Tchê, que já acertou com o Palmeiras após ficar uma década no clube – ele foi descoberto em um torneio de supermercado, quando jogava futsal. O supermercado, aliás, é a origem do Audax. O time surgiu em 1985, quando era chamado de Pão de Açúcar, referência à rede de varejo. O foco, na época, era atletismo e crianças de sete a 14 anos. Futebol, mesmo, só virou realidade em 2003. Desde então, a ascensão é meteórica.
Em 2008, o clube foi campeão da quarta divisão. No ano seguinte, subiu à terceirona. Virou Audax em 2011, após fusão. O maior salto veio em 2013, quando chegou à primeira divisão paulista. Só que os donos resolveram vender o clube, alegando altos custos. Vice-presidente do Grêmio Osasco, Mário Teixeira foi o comprador. Investiu R$ 30 milhões e batizou-o de Osasco Audax.
Os dois primeiros anos de Série A paulista acabaram em eliminação na primeira fase. Neste ano, venceu o Palmeiras na primeira fase e tirou São Paulo e Corinthians no mata. Conseguirá bater o Santos também? Com oito finais consecutivas, essa é a quarta vez que o Peixe encara uma surpresa na decisão. Venceu em 2010 (Santo André) e 2012 (Guarani). Perdeu em 2014 (Ituano). Há cinco anos sem uma derrota sequer na Vila Belmiro pelo Estadual, o Santos é o favorito. Mas ninguém se surpreenderá se a audácia vencer a tradição.
Santos x Audax
Domingo – 16h
Vila Belmiro
Para ser campeão:
Quem vencer fica com o título. Em caso de empate, por qualquer placar, a decisão será nos pênaltis.
*ZHESPORTES