O futebol mundial perdeu um de seus ícones nesta quinta-feira. Morreu aos 68 anos o holandês Johann Cruyff, um dos maiores personagens da história do esporte, vítima de um câncer de pulmão.
– Em 24 de março, Johan Cruyff morreu pacificamente em Barcelona, rodeado por sua família, após uma dura batalha contra o câncer. É com grande tristeza que pedimos respeito à privacidade da família durante seu período de luto – afirma comunicado divulgado pelo site oficial do holandês.
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Cruyff passa para a história não apenas como um jogador excepcional e vencedor, mas também como um revolucionário do esporte. Nos anos 1970, quando viveu seu auge, capitaneou o Ajax tricampeão europeu e a seleção holandesa vice-campeã mundial em 1974, eternizada como "Laranja Mecânica" e conhecida por inovações táticas que mudaram o futebol.
A trajetória do meia-atacante nas categorias de base do Ajax iniciou aos 10 anos. Cruyff logo mostrou sua visão de jogo ímpar e os passes precisos que deixavam companheiros na cara do gol.
No final dos anos 1960, comandados pelo lendário técnico Rinus Michels, Cruyff e seus companheiros plantaram a semente para uma das mais importantes transformações na história do futebol. O Ajax praticava o que depois ficou conhecido como "futebol total". A Europa se espantava com a movimentação intensa dos jogadores e as constantes trocas de posições, combinadas com uma marcação adiantada que sufocava os adversários. Cruyff era escalado como centroavante, mas recuava para organizar o jogo, alimentar os parceiros de ataque e desnortear marcadores com dribles desconcertantes.
Já amadurecido, o Ajax conquistou o tricampeonato europeu em 1971, 1972 e 1973. No mesmo ano do terceiro título continental, Cruyff fechou a transferência para o Barcelona, clube em que alcançaria status de ícone nos anos seguintes.
Em 1974, o "futebol total" germinado em Amsterdã ganhava o mundo com a camisa da seleção holandesa na Copa da Alemanha. Cruyff era o maestro do time em que não havia posição fixa. O Brasil foi uma das vítimas da "Laranja Mecânica", que passou pelos comandados de Zagallo com um convincente 2 a 0 na semifinal. Cruyff marcou um dos gols.
Veja fotos da trajetória de Cruyff
Favoritos ao título na decisão contra os donos da casa, os holandeses saíram na frente no placar, mas foram surpreendidos com a virada e, mesmo após marcar a história do futebol com conceitos revolucionários, voltaram para casa sem a taça.
Cruyff seguiu carreira no Barça como principal figura do clube. Às grandes atuações em campo, somava-se sua clara disposição de se inserir na vida da Catalunha. Em 1974, quando nasceu seu terceiro filho, Cruyff decidiu batizá-lo como Jordi, em homenagem ao santo padroeiro da Catalunha. Como foi proibido de registrar o filho com esse nome na Espanha, já que o regime do ditador Franco impedia menções a qualquer símbolo do nacionalismo catalão, teve de viajar à Holanda para tornar oficial a homenagem.
A passagem pelo Camp Nou se encerrou em 1978, com um título espanhol e um da Copa do Rei. Dali em diante, Cruyff passou pelo futebol norte-americano, antes de retornar ao Ajax em 1981, e de uma curta passagem pelo Feyenoord, de Roterdã, antes da aposentadoria em 1984.
Um ano depois já estava na casamata, comandando o Ajax. Mas seu período de maior sucesso como técnico viria em Barcelona, após assumir a equipe em 1988. Lá, foi o arquiteto do chamado "Time dos Sonhos", com destaques como Stoichkov, Guardiola e Romário. Em 1992, chegou à glória ao vencer o título europeu em cima da Sampdoria, e foi tetracampeão espanhol entre 1991 e 1994.
O ciclo de Cruyff como técnico doBarça se encerraria em 1996, mas ele deixaria o legado do futebol ofensivo e vistoso que já apresentara como jogador. Os conceitos do Ajax e da "Laranja Mecânica", que ele levou à Catalunha, serviram de inspiração para um de seus comandados no "Time dos Sonhos": Pep Guardiola, multicampeão como técnico do Barça entre 2008 e 2012, não nega que o holandês foi um de seus mentores.
Fumante compulsivo desde os tempos de jogador, Cruyff lutava contra o câncer desde outubro do ano passado. Em parte do período que trabalhou como técnico era comum vê-lo com um cigarro na casamata.
* ZH Esportes