O esporte é assim. Sempre foi. Cheio de surpresas, de transformações. Pode levar à glória um simples atendente da lanchonete da Dona Edilueza, que levantava às 3h da manhã para comprar pão, salgados e leite do café da manhã de um condomínio luxuoso de Goiânia.
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Ali, Wendell Lira tirava a sustento para viver ao lado de sua musa Ludmila, da lanchonete de nome "Bacana". Já havia desistido do futebol. Carreira encerrada aos 26 anos, quando preferiu rescindir o contrato, sacar o FGTS e quitar as dividas do apartamento da dona Edilueza, sua mãe. Foi quando tocou o telefone.
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As coisas não acontecem por acaso. Era o Goianésia, um clube de futebol. Pois o Goianésia estava oferecendo um novo contrato ao atendente. E ele foi correndo atrás do sonho. Atrás do gol de sua redenção.
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No meio de março do ano passado, Wendell Lira fez aquele golaço. Mas, nada mudou. Os times o desprezaram e os meios de comunicação de Goiás ignoraram e não acreditaram na façanha do filho da terra. Aliás, até aí nenhuma novidade. Afinal de contas, quando é que santo de casa faz milagre? Humilde, Wendell esperou a vez.
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Nesta semana, o desprezado craque do Goianésia deu a volta por cima. Dentro de seu terno domingueiro, pago em várias prestações, viajou para a Suíça, ao lado de sua musa Ludmila e aplicou uma lição em quem não o levou a sério e em quem, de alguma forma, o humilhou. Acabou conquistando o prêmio pelo feito do gol mais bonito do ano, reconhecido na cerimônia mais concorrida do futebol.
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Ao receber o troféu histórico, Wendell recorreu à citação bíblica de Davi e Golias. Na exaltação que fez diante dos craques presentes na premiação da FIFA, citou os jogos de videogames como única forma possível dos mortais conviverem ao lado dos consagrados.
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Aquele foi realmente o seu momento de glória. Teve o seu golaço mágico escolhido entre os mais bonitos que o futebol viu em 2015. Teve mais sucesso do que o gol do Messi, o Golias.
Ninguém sabe ao certo qual será amanhã a profissão de Wendell Lira, o Davi, se atendente da lanchonete da mãe ou craque do Goianésia. Não importa mais. O que importa agora é a história, pois ninguém apagará o feito mais simbólico do futebol no ano de 2015. Importa a lição. Importa que, na segunda-feira de 11 de janeiro, ele foi igual ou maior do que Messi, Cristiano Ronaldo, Neymar.
A lição é de que o esporte é feito assim, por heróis. Mesmo que por um dia.
*ZHESPORTES