A única coisa que surpreendeu o Grêmio na decisão da Segunda Divisão em 2005 foi o inusitado desfecho do jogo contra o Náutico e os acontecimentos de campo que passaram para a história como “inacreditáveis”. Até então, por mais especial e delicada que fosse a situação, tudo era previsto. A saída de Porto Alegre aconteceu no dia 24 de novembro. Antes da viagem da delegação, porém, o diretor Paulo Pelaipe já havia viajado para conferir providências como a evacuação do Gavoa Praia Hotel para hóspedes comuns e a contratação de cozinheiro e seguranças especiais. Na despedida do time no aeroporto Salgado Filho havia torcedores para desejar sucesso aos jogadores.
Além dos dirigentes que normalmente acompanham a equipe, um convidado especial chamava a atenção, o ex-presidente Luís Carlos Silveira Martins. Ele era um símbolo, uma espécie de chefe da delegação, ainda que sem nenhum cargo naquele momento no clube. Cacalo, significava uma lembrança de um dos momentos mais vitoriosos do Grêmio – os anos 90 – para ajudar numa hora extremamente dramática.
Embora a tensão normal de quem viaja para uma batalha no território adversário, o clima era de total descontração no grupo. Jogadores, comissão técnica, dirigentes, torcedores e imprensa exibiram durante todo o tempo tranquilidade, informalidade e confiança num resultado positivo. Aos jornalistas do Rio Grand,e do Sul foi permitida a hospedagem no mesmo hotel em que ficaria o Grêmio nas duas primeiras noites em Pernambuco.
A chegada em Recife foi tranquila. Era final de tarde, já início da noite. Alguns torcedores gremistas estavam no aeroporto, a imprensa local fez rápidas imagens e entrevistas, mas não havia uma revelação clara do local da concentração. Também não era um total segredo o local do refúgio tricolor, mas a deia era deixar no ar uma dúvida para os pernambucanos. Depois de uma viagem de mais de uma hora, percorrendo aproximadamente 50 quilômetros, atravessando Recife e Olinda, foi possível chegar a Igarassu, ao norte da capital, ao lado da Ilha de Itamaracá. O acesso era complicado. Depois de estradas e vias urbanas, havia caminhos sem pavimentação e estreitos para a chegada no hotel. Na entrada já havia sinais de um esquema especial. O ônibus gremista passou normalmente, mas os carros com jornalistas foram retidos para uma minuciosa identificação e a confirmação que eram hóspedes. Quem não estivesse na lista da hospedagem não entrava, mesmo que fosse da imprensa. A polícia também controlava o portão e foi ela quem identificou dois carros com ocupantes que tentaram burlar a proibição. Eram torcedores do Náutico que ao serem barrados xingaram os gaúchos, os policiais e soltaram foguetes, provocando os seguranças. O clima esquentou, mas nada de mais grave aconteceu. Do portão de entrada à recepção do hotel havia uma distância de aproximadamente um quilômetro que depois de mais ou menos meia-hora de espera foi percorrida pelos repórteres, sob a condição de que os táxis que os levavam, retornariam imediatamente.
O Gavoa Praia Hotel é um resort. Naquela época passava por uma remodelarão. Parte dele estava com novos e confortáveis apartamentos. Ali ficaram os jogadores. A imprensa ficou em cabanas, cujo estado de conservação era bem menos requintado. O sistema de comunicação era precário. A telefonia fixa tinha limitações, e os celulares só tinham sinal razoável em algumas regiões. Equipamentos mais sofisticados simplesmente não funcionavam. Para quem queria isolamento, um local perfeito.
Todos instalador, houve a janta. Após a refeição dos jogadores e enquanto os jornalistas passavam suas notícias, uma mesa etnia autoridades. Ali o comandante da Polícia Militar de Pernambuco , um oficial da Brigada Militar e dirigentes do Grêmio, entre eles Cesar Pacheco. Havia uma operação conjunta pedida pelo clube com as polícias Gaúcha e pernambucana. Havia uma espécie de reciprocidade entre as corporações, inclusive com táticas de inteligência, que se estabelecera depois de jogos anteriores em Recife e Porto Alegre em que houve atos hostis foguetório nas concentrações. Saíram todos satisfeitos do jantar. Os policiais pernambucanos ganharam brindes tricolores e garantiram total segurança aos gaúchos. Eles tinham missão dobrada pois no dia do jogo dos Aflitos, haveria no mesmo horário a outra decisão do campeonato entre Santa Cruz e Portuguesa no Estádio do Arruda.
Fechados os trabalhos, tomado o lanche, encerrados os programas, era hora de dormir uma noite absolutamente tranquila antes dos últimos trabalhos, do derradeiro treino e das 24 horas finais até a decisão.