O tenista Marcelo Melo, que assume a liderança do ranking de duplas da ATP nesta segunda-feira, conversou por e-mail com ZH em meio aos treinos em Paris, onde disputará o Masters 1000 ao lado do croata Ivan Dodig. Leia a íntegra da entrevista.
Cinco títulos até agora no ano, o primeiro troféu de Grand Slam, a conquista do posto de número 1 do mundo nas duplas. Tudo isso aos 31, 32 anos. Como você avalia a melhor temporada em mais de 15 anos de carreira?
Eu e o Ivan (Dodig) começamos muito bem o ano já com uma semifinal no Aberto da Austrália. A partir deste resultado, pude sentir que estávamos jogando nosso melhor tênis e que poderia fazer uma boa temporada. Acabou que, por enquanto, estamos fazendo a melhor temporada da nossa dupla.
Qual é a sensação de destronar os irmãos Bryan, que lideraram o ranking nos últimos três anos? Você acredita que poderá se manter no topo por um longo tempo?
Muito boa. Os irmãos Bryan estão dominando o circuito há muito tempo, sempre com uma vantagem sobre o segundo colocado. Poder chegar ao topo com eles ainda jogando é realmente gratificante. Vou fazer de tudo para seguir o maior tempo possível na liderança.
Você teve de trocar os parceiros de duplas nas últimos torneios. E emendou três títulos na sequência. O que explica esse rápido entrosamento com o Raven Klaasen e o Lukasz Kubot?
Eu conheço muito bem os dois fora e dentro de quadra. Eu sempre analiso bem quais os jogadores eu devo chamar para jogar, exatamente porque é muito importante ter este entrosamento.
André Sá, Bruno Soares, Marcelo Melo... O que explica o sucesso dos mineiros de BH nas duplas?
Para mim é uma total coincidência. Todos nós gostávamos de jogar duplas desde o começo da carreira.
Por falar em duplistas mineiros, você e o Bruno pretendem disputar quantos torneios juntos em 2016 tendo em vista os Jogos do Rio? Já uma definição de calendário?
Vamos disputar alguns torneios juntos, porém, não temos um número exato, vamos fazer de tudo para chegar no mais alto nível possível na Olimpíada.
A Olimpíada é a sua prioridade de 2016?
Com certeza. Será uma oportunidade única jogar uma Olimpíada em casa.
Quem o inspirou no tênis e quem o inspira a continuar evoluindo no circuito? Por quê?
Minha família foi quem mais me inspirou a jogar. Todos em casa jogam tênis, meus pais até hoje jogam todos os finais de semana. Foi deles que tomei o gosto pelo esporte.
Com a sua ascensão à liderança do ranking e os feitos de Guga, o Brasil se junta a outros seis países que produziram números 1 do ranking tanto em simples quanto em duplas. Apesar desse dado, o país tem papel secundário no cenário mundial do tênis. Você acha que o seu sucesso pode dar um novo ânimo para os tenistas brasileiros?
Espero que sim. Especialmente para quem está começando, eles vão acreditar ainda mais que também podem chegar lá.
Qual é a importância do trabalho e do apoio do seu irmão nesse momento de sua carreira?
O Daniel foi importante desde o primeiro dia em que começamos a trabalhar juntos. Ele sabe muito bem como me treinar, o que é bem diferente de cada jogador. Sempre tentou me proporcionar os melhores treinos e conversas para que eu aumentasse meu nível de jogo.
Duplistas em geral têm uma maior longevidade no tênis. Você projeta jogar até quando?
Espero chegar até a Olimpíada de Tóquio, pois seria legal jogar por lá. Gosto muito do Japão, o respeito que o japonês tem pelos outros é de admirar.
Você faturou US$ 3 milhões em prêmios em toda a sua carreira. É um valor bem inferior ao que recebem os top 10 de simples. O Djokovic, por exemplo, ganhou mais do que isso apenas com um único título nesta temporada, no Aberto dos EUA (US$ 3,3 milhões). Esse abismo no circuito o incomoda? É possível reduzir essa disparidade?
A ATP, junto com os jogadores, está conversando com os torneios para aumentar a premiação nas duplas. Nos últimos anos, isso vem se intensificando gradativamente para diminuir a diferença. Muitos jogadores de simples também concordam que a premiação deveria ser maior nas duplas.
*ZHESPORTES