Suspenso por 90 dias, Michel Platini, presidente da Uefa e integrante do comitê executivo da Fifa, tem o apoio da França, mas parte do mundo olha desconfiado, muito desconfiado.
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Os jornais da Europa questionaram.
- Até você, Platini?
O que começou como murmúrio, boato, ganhou manchete. Em 2011, Michel Platini, 60 anos, recebeu R$ 8 milhões da Fifa por serviços prestados na década passada. O trabalho não gerou recibo e nem nota fiscal. Foi um acerto muito particular entre o francês Platini e o suíço Joseph Blatter. O dinheiro não aparece na bilionária contabilidade da Fifa. Quem procura ainda não achou um centavo. O pagamento foi considerado ilegal.
- Um acordo de cavalheiros - afirmou Blatter.
Como?
- Um acordo de cavalheiros - repetiu Platini.
Mentira dobrada. Foi gente ligada a Blatter que vazou a história ao inglês The Guardian. Foi pura vingança. Logo que o FBI entrou em ação na Suíça, em maio, ligou o rastilho de pólvora do Fifagate. Platini, respaldado pelas 54 federações europeias que compõe a Uefa, pediu que Blatter deixasse o cargo, fortaleza de décadas.
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Os dois eram amigos desde os anos 1980. Jogavam peladas na Suíça, onde moram. Suas famílias se davam bem. Os dois dividiam assentos no comitê executivo, um não se metia na eleição do outro, se apoiavam. Os grandes eventos do futebol nunca começavam sem Blatter e Platini nas tribunas ou no pontapé inicial.
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O dinheiro entregue a Platini pode ter sido desviado da Fifa, maquiado nos escritórios da entidade em Zurique, na Suíça. O escândalo é mundial. Tanto que até a corrupta Conmebol, casa de 10 confederações nacionais, resolveu repensar o nome do seu candidato às eleições presidenciais de fevereiro de 2016. Era Platini, já foi Blatter. Busca uma terceira via.
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O envolvimento de Platini no submundo levantou os cabelos dos apaixonados por futebol. Nem todos acreditaram - agora o alemão Franz Beckenbauer, outra referência, também está envolvido na teia de corrupção que parece estender-se entre os cinco continentes.
Entrincheirados em Paris, poderosos franceses usaram jornais, rádios, TV, blogs ou qualquer coisa que fizesse barulho e eco para defender seu ícone. Platini fez mais gols que Zidane com a camisa da seleção francesa: 368 contra 157. Foi camisa 10 histórico da seleção, um craque, capitão, 11 anos sem nunca ter encarado um cartão vermelho, e treinador. Platini ajudou a derrotar a Seleção Brasileira de Telê Santana na Copa do Mundo de 1986 no México.
O periódico France Football correu na frente e classificou Platini como "um ente sagrado".
É pouco? Não.
"Michel é Eliot Ness, um incorruptível", bradou a Radio France. Só faltou a música do filme Os Intocáveis ao fundo. Um primeiro escândalo passou raspando na trave de Platini, mas alcançou outros dirigentes importantes. Em 2010, ele votou no Catar como sede da Copa do Mundo de 2022. A suspeita de compra de votos é real. É forte.
Na época, sofreu pressão forte do então presidente francês Nicolas Sarkozy. O "sim" representava muito dinheiro para França, forte parceiro comercial dos catarianos.
Mas foi o Fifagate que o pegou.
- Me suspenderam por três meses, mas o que mais me irrita é que me coloquem no mesmo saco que os outros. Estou envergonhado que me arrastem pelo barro - falou ao jornal Le Monde, um dos mais influentes da Europa.
Platini sabe que se a Fifa não mudar, o FBI fará de tudo para forçar uma transformação mais do que radical. Favorito numa eleição sem o banido Blatter, ele não sabe se poderá concorrer em 2016. O apoio junto às 209 federações que sustentam a Fifa murchou. Como presidente afastado da Uefa ainda tem estabilidade na Europa, que pode minguar se ele não provar que é inocente.
Não faz bem ao futebol proteger alguém suspeito de receber dinheiro ilícito. O mais provável é que o ex-craque, homem carismático e sem qualquer formação universitária, moldado no dia a dia dos campos, dos vestiários e dos gabinetes, saia de cena. Quem quiser lembrá-lo, mais adiante, fique com os gols de Michel Platini na seleção e na Juventus.
*ZHESPORTES