O Brasileirão 2015 chegou à fase mais temida pelos preparadores físicos. Somando também a Copa do Brasil, o Grêmio fará oito jogos em 25 dias. O Inter terá a mesma maratona, mas envolvido com as semifinais da Libertadores. Além disso, se chegar à final, o time de Diego Aguirre pode contabilizar 12 confrontos em 36 dias. Ou seja, a dupla Gre-Nal entrará em campo a cada três dias em julho.
A falta de tempo para recuperar os jogadores é o grande quebra-cabeça dos clubes, que há anos batalham por uma maior flexibilidade no calendário brasileiro. Enquanto isso não ocorre, os departamentos de fisiologia se desdobram na avaliação e planejamento de atividades específicas para que ninguém perca a intensidade tão cultuada no futebol atual.
Uma das saídas é o sistema de rodízio, bastante usado na Europa e adotado por Diego Aguirre desde sua chegada ao comando técnico do Inter no início do ano. Entretanto, apesar de ter peças teoricamente descansadas, as equipes podem atuar enfraquecidas quando o plantel não é tão qualificado.
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Conforme o coordenador da preparação física colorada, Élio Carravetta, o objetivo é manter a preservação dos jogadores em meio a duas competições concomitantes.
- Vamos dar prosseguimento ao critério adotado pela comissão técnica. Os cuidados vêm sendo tomados desde o Gauchão. É a única alternativa que se tem. Além de que o treinamento técnico-tático não é dissociado do físico - diz Carravetta.
Segundo especialistas e profissionais da área, a pré-temporada pode ser decisiva, quando são feitos inúmeros testes com o grupo nos primeiros dias de trabalho. Por meio de avaliações da frequência cardíaca e testosterona, entre outros fatores, a equipe médica extrai uma espécie de mapeamento do impacto de treinamentos e jogos no metabolismo do jogador.
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Os resultados passam a ser medidos e comparados ao longo de todo o ano para definir o estado físico de cada atleta. Mesmo assim, a avaliação subjetiva de cada um também influi na escalação.
- Alguns atletas recuperam mais rápido, outros demoram mais um pouco. Por exemplo: se o Rhodolfo joga à noite, fazemos uma avaliação dele dentro de 48 horas. E isso vai para um banco de dados. No jogo seguinte, fazemos a mesma medição. Depois, comparamos os dados das duas avaliações e podemos definir uma preservação maior para ele. Vejo a minha função, agora, como um facilitador - explica o preparador físico do Grêmio, Rogério Dias.
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Conforme estudos na área da Educação Física, um jogador de alto rendimento geralmente precisa de cerca de 72 horas para se recuperar plenamente de uma partida de 90 minutos.
Tal relação é explicada pelos níveis de creatina quinase, uma enzima presente no músculo intimamente ligada à alta intensidade de exercício em curta duração. Em média, ela atinge seu pico entre 24 e 48 horas após a atividade física. Em seguida, diminui progressivamente para depois se estabilizar no terceiro dia.
- Antigamente, na véspera de jogo, os times faziam aqueles longos rachões, com muita intensidade. No dia, a fadiga estava em nível mais alto. Hoje, isso mudou. São treinos curtos, de 30, 40 minutos. Ou seja, menor volume, mas com alta intensidade - explica o professor e doutor em Ciências do Movimento Humano da UFRGS, Giovani dos Santos Cunha.
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Para suportar a maratona do Brasileirão, os preparadores físicos utilizaram as últimas semanas livres para uma "mini pré-temporada", com cargas maiores de treinamento. Isso porque a sequência de jogos praticamente impede a melhora da performance.
- A intensidade faz parte do dia a dia do atleta. Ele treina intenso para competir intenso. O que vai diferenciá-lo é a capacidade de se recuperar para o próximo estímulo (jogo) que começa a ficar cada vez menor. Hoje em dia, os jogadores estão cada vez mais próximos do limite com menos tempo de recuperação. Porém, eventualmente, passam do limite e podem sofrer lesões - comenta o coordenador do Laboratório de Avaliação e Pesquisa em Atividade Física (Lapafi) da PUCRS, André Luiz Estrela.
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Levar um atleta ao seu limite também pode causar as temidas lesões musculares. Dependendo da intensidade do problema, o jogador pode passar boa parte da temporada em recuperação.
É o caso do gremista Giuliano, que esteve abaixo de seu rendimento no Brasileirão do ano passado devido a uma pubalgia. Leandro Damião, devido ao mesmo problema, não conseguiu render o esperado no Santos. Somente agora parece estar voltando à forma no Cruzeiro.
- Imagine um jogador de 24 anos que nunca teve uma lesão séria. Ele vem treinando assim desde os 12 anos. Então, interrompe um processo de mais de 10 anos. E precisa começar tudo de novo - observa Cunha. - A cada dia parado, estima-se em três para recuperar. Assim, prevenir lesões por sobrecarga, seja de jogos ou treinamento, é fundamental para o futebol moderno - complementa.
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