Ainda não foi o último jogo, mas teve uma emoção especial. No domingo, Hélia Rogério de Souza Pinto entrou em quadra pela última vez no Brasil. Aos 45 anos, Fofão, como ficou conhecida internacionalmente, encerrou em terras brasileiras uma carreira longeva e brilhante. Um momento histórico.
A levantadora passou por três gerações do vôlei feminino, acompanhou de perto o crescimento, a grande decepção (aquela derrota para a Rússia em 2004) e o auge de uma geração dourada. Passou de novata a veterana, sempre com o mesmo talento e carisma. É, ao lado de Fernanda Venturini, a melhor levantadora que o país já teve. Podia não ter lampejos de genialidade como Fernanda, mas sempre foi constante - teve muito mais momentos bons do que ruins na carreira - e é uma operária. Trabalhou com afinco e soube aproveitar as oportunidades. Contemporânea de Fernanda, Fofão aguentou a reserva enquanto a "estrela" ainda jogava. Por coincidência do destino (ou não), Fofão é campeã olímpica, Fernanda, não.
Ela é aquele tipo de atleta que todo treinador quer ter na sua equipe: é técnica, sabe dosar tranquilidade e emoção, é uma líder que motiva pelo exemplo. Sua liderança - foi capitã da seleção por anos e é a capitã do Rexona-Ades - e estilo de jogo foram forjados ao lado de grandes nomes da modalidade. Por ser levantadora, aquela que pensa as jogadas, aos olhos do público quase não aparecia, mas suas mãos fizeram brilhar nomes como Ana Moser, Márcia Fu, Leila, Virna, Scheilla, Thaísa e Fabi, entre outras.
Fofão encerra a carreira no topo. A despedida oficial será como uma atleta do nível dela merece, em um Mundial, que o time carioca disputará entre 6 e 10 de maio, na Suíça. No domingo, Fofão ajudou o Rexona-Ades a ser decampeão da Superliga e conquistou o seu quinto título da competição - três pelo time carioca. Aliás, a equipe de Bernardinho segue imbatível mesmo não sendo cheia de estrelas como o principal adversário, o Molico. A diferença? Postura tática. O técnico sabe como ninguém fazer seus times seguirem à risca o que pede. Se o adversário não se sobrepõe a isso com talento, fica difícil vencer. Nem sempre dará certo, mas é difícil dar errado. E, se perder, terá lutado até o último ponto. Quer dizer, é realmente uma equipe, não depende de um ou dois talentos e sabe mesclar experiência com juventude.
Fofão fará falta ao Rio de Janeiro/Rexona/Ades, assim como faz falta à Seleção, que desde sua saída ainda não encontrou uma substituta de mesmo talento. Fica o seu exemplo para as novas gerações. Sai a jogadora, permanece o ícone que muitas gerações aprenderam a admirar.