Em depoimento à Polícia Civil, um policial militar (PM) envolvido na ação para conter uma briga de torcidas que acabou com a morte a tiros de Maicon Douglas de Lima, 16 anos, admitiu ter efetuado disparos com munição comum que podem ter atingido o adolescente.
Conforme o titular da Delegacia de Homicídios de São Leopoldo, Vinicius do Valle, o PM alegou ter disparado porque se sentiu ameaçado pelo tumulto.
- Ele disse que atirou em legítima defesa, mas ainda é preciso aprofundar a investigação - afirmou Valle.
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Projétil retirado de torcedor morto pode ter sido trocado por PMs
BM apura por que não foram usadas balas de borracha na briga entre torcidas
O tenente-coronel Luiz Fernando Rodrigues, comandante do 3º Batalhão de Polícia Militar (BPM), com sede em Novo Hamburgo e que abriu um inquérito policial militar (IPM) para apurar o caso, confirmou já ter conhecimento do depoimento do soldado, mas ressalta que ele ainda deve ser ouvido pela BM.
Segundo Rodrigues, o PM, que não teve o nome divulgado, pertence ao 25º BPM, de São Leopoldo, e já foi afastado das atividades de rua, assim como outros brigadianos que participaram da ação. O tenente-coronel afirmou que não pode informar o número de policiais envolvidos para não atrapalhar as investigações.
Conforme o delegado, apenas a perícia será capaz de confirmar a origem dos dois tiros que acertaram Maicon nas costas e em uma das nádegas, na saída do jogo entre Novo Hamburgo e Aimoré. Valle ressalta, contudo, que as armas do PMs investigados ainda não foram entregues.
- É um erro da BM manter as armas no Batalhão - disse o delegado, acrescentando que o material é fundamental para a elucidação do caso.
Rodrigues garantiu que o material será encaminhado nesta terça-feira ao Instituto Geral de Perícias (IGP), que fará os laudos para as investigações.
- Só não enviamos hoje (segunda-feira) porque é feriado em Porto Alegre - justificou o comandante do 3º BPM.
Troca de projéteis é investigada
A Polícia Civil investiga, ainda, a suspeita de que uma das balas retiradas do corpo de Maicon teria sido trocada por PMs para confundir a apuração do caso. No Hospital Centenário, para onde o jovem foi levado, os médicos removeram uma das balas que o atingiram. O projétil, contudo, desapareceu e foi reapresentado pelos brigadianos horas depois.
Conforme o relato de funcionários de hospital, a bala teria sido trocada, uma vez que o projétil retirado do corpo do jovem teria marcas de sangue e o que foi entregue pelos PMs estaria com traços de concreto.
O hospital forneceu à Polícia Civil imagens das câmeras de monitoramento da instituição que registraram o período de atendimento a Maicon. O delegado, contudo, afirma que a hipótese ainda não foi confirmada.
O tenente-coronel Rodrigues confirma que a BM também já foi informada sobre a possível troca de balas e que a suspeita será investigada no IPM. Caso a tentativa de fraude seja confirmada, a punição pode variar desde uma prisão até a expulsão da corporação.