As condutas dos cinco policiais envolvidos na morte de Maicon Douglas de Lima, 16 anos, na noite do último domingo após uma briga entre torcidas do Novo Hamburgo e Aimoré em uma estação do trensurb em Novo Hamburgo, serão analisadas nos próximos dias pela Brigada Militar, que ressaltou ser de responsabilidade do próprio PM a decisão de efetuar um disparo com arma de fogo. O subcomandante-geral da corporação, coronel Paulo Moacyr Stocker, afirmou que "depois que o PM atira, a sentença está dada".
Os policiais foram afastados do trabalho e dois tiveram prisão temporária decretada pela Justiça na tarde desta quarta-feira. Maicon foi morto com dois tiros pelas costas. Câmeras de vigilância do Hospital Centenário, em São Leopoldo, registraram (veja o vídeo) a entrada de quatro brigadianos em uma sala restrita na noite do último domingo. Eles tiveram acesso ao local onde a vítima era operada e a Polícia Civil investiga se os PMs trocaram projéteis para confundir a apuração do caso.
Confira, a seguir, os principais trechos da entrevista com o subcomandante-geral da Brigada Militar:
A atuação dos policiais na estação do Trensurb foi correta?
Isso será apurado no Inquérito Policial Militar (IPM). Foi determinado o afastamento deles para dar mais lisura à investigação. Já é de conhecimento que um dos rapazes confessou ser autor de um disparo. Agora, o IPM vai apurar todas as causas. Eles não estavam preparados para lidar com torcida, estavam com munição para policiamento normal. Não estavam pensando em um movimento de massa naquela noite.
Mas os brigadianos não são treinados para atuar em situações assim, a qualquer momento?
Sim, tanto que existem cursos próprios na BM somente para grandes eventos como jogos de futebol. Todo efetivo da cidade que tem algum estádio na sua jurisdição é treinado.
Então, por que ocorreu a morte?
Vamos apurar no inquérito, não posso fazer um julgamento sem ouvir as partes. É muito bem treinado, difundido e instruído na corporação o uso progressivo da força e a decisão do tiro. Na rua, o PM tem frações de segundos para decidir se usa ou não a arma de fogo, e para isso ele necessita de treinamento. Ele é preparado para fazer a leitura de cenário muito rápida, sob pena de cometer uma ação descenessária. Depois que o PM atira, a sentença está dada. Esse homem tem de estar ciente de sua decisão para usar a arma de fogo.
O que a BM diz sobre as imagens das câmeras do Hospital Centenário, que mostram os PMs entrando em uma área reservada onde estava o jovem morto?
Se houve adulteração de prova, com certeza o responsável será penalizado. Não tenho dúvidas disso.
Troca de projéteis
Os PMs que tiveram acesso ao local onde Maicon era operado são investigados por adulteração de provas. Os médicos que atenderam o jovem removeram o projétil, que acabou desaparecendo e foi reapresentado pelos brigadianos horas depois. Conforme o relato de funcionários do hospital, a bala foi substituída, uma vez que teria marcas de sangue e não estaria com traços de concreto, como a que a corporação recebeu.
As imagens das câmeras do Hospital Centenário reforçam a linha de investigação da Polícia Civil. O vídeo mostra a chegada de uma viatura da Brigada às 21h29min de domingo. O pai da vítima está dentro do carro e ajuda a levar o garoto, ainda com vida, para a maca. Em uma câmera interna, é possível ver os socorristas transportando Maicon para uma área restrita do hospital.
Onze minutos depois, os PMs que dirigiam a viatura ingressam na mesma sala e, em seguida, os outros dois percorrem o mesmo caminho. Todos ficam por pouco mais de dois minutos. Outra câmera externa do Hospital Centenário mostra os brigadianos conversando e, então, partindo para a delegacia. Veja abaixo: