Ano sim, ano não, o Grêmio conquista vaga na Libertadores via Brasileirão. Desde que voltou da Série B, em 2006, carimbou o passaporte para a América cinco vezes. Em aproveitamento, é o sexto melhor time da era dos pontos corridos. Posição que só não é mais alta em razão das tenebrosas campanhas de 2003 e 2004, e lá se vão 10 anos. Desde então, o Grêmio se tornou um especialista no formato, candidato à vaga no G4 mesmo com times limitados.
Se o Grêmio está sempre envolvido na "emocionante" briga pelo G4, por que é justamente o presidente do clube, Romildo Bolzan, quem está propondo o retorno dos mata-matas? Talvez porque Romildo seja o presidente de um time brasileiro, cuja torcida também é brasileira. E brasileiros, mais do que de títulos, se alimentam da expectativa deles.
Honestamente, não sei o que leva a torcida do Sunderland, do Stoke City ou de qualquer time europeu a assistir campeonatos sem ter chance de vencê-los. Sei é que é duro convencer o torcedor da Ponte Preta a ir ao estádio quando o time está em 11º lugar. E que talvez seria mais fácil atraí-lo se ele pudesse alcançar o oitavo lugar e, quem sabe, surpreender o país com uma rasteira no líder do campeonato.
Seria injusto? Bem, até isso é questionável. Primeiramente, porque competências diferentes são exigidas quando a fase de pontos corridos é seguida de playoffs. Onde estariam Diego e Robinho, hoje, se o Santos - oitavo em 2002 - não tivesse batido o líder São Paulo já nas quartas de final? Certamente o São Paulo de Kaká e Júlio Baptista seria um campeão inquestionável, como hoje é o Cruzeiro. Mas não seria mais justo ainda exigir de um campeão postura implacável na hora das decisões?
Por fim, as injustiças dos pontos corridos também existem, apenas são diluídas nas intermináveis 38 rodadas. Em 2014, por exemplo, desinteressados da disputa, Botafogo e Goiás preferiram jogar contra o Corinthians em arenas na Amazônia e no Pará, atraindo, sobretudo, corintianos. Como pode ser justo, em um campeonato contabilizado ponto a ponto, em que toda rodada é igualmente decisiva, proporcionar ao Corinthians dois mandos de campo a mais do que os rivais?
Não seria lindo ver um time dos playoffs neutralizar esse tipo de prática derrubando os Corinthians da vida em um confronto direto? Injusto? Por um lado, sim. Mas, mudando de perspectiva, o mata-mata é a oportunidade de corrigir 38 rodadas de pequenas injustiças. O mando de campo invertido, a convocação em má hora, o erro de arbitragem... Tudo pode cair por terra quando 11 jogadores enfrentam outros 11. Para matar ou morrer, sempre com o título no horizonte. Como gosta o brasileiro.