A história do campeão
A paixão pelo surfe surgiu na época em que precisava caminhar muitos quarteirões para chegar à praia de Maresias, litoral de São Paulo, que ainda mantém como base, apesar de já acumular milhões apenas em prêmios. Gabriel já disse que não liga muito para dinheiro: uma casa perto da praia e um carro para ir atrás das ondas que quiser bastam para satisfazer as vontades de menino.
Aos sete anos de idade, ganhou a primeira prancha de presente do padrasto Charles, que faz questão de chamar de pai. Dez anos depois, aos 17, se tornou o surfista mais jovem a entrar no World Championship Tour (WCT). Hoje, com 20, é o segundo mais jovem a ser campeão mundial, apenas atrás de Kelly Slater.
Em 2011, depois de perder uma bateria para Gabriel, Slater, 11 vezes campeão mundial, disse que antigamente eram os jovens que aprendiam com os mais velhos, mas, agora, estava acontecendo o contrário. Na época, das quatro primeiras etapas entre a elite do surfe mundial, Medina já tinha ganhado duas. Em 2012, pelo Twitter, Slater parabenizou o maior fenômeno recente do surfe depois de mais uma vitória do brasileiro: Entre os caras da sua idade, Gabriel é rei. Em 2013, venceu o mundial júnior quebrando o recorde de nota mais alta da competição. Ídolo desde os 15, quando foi o mais jovem a vencer uma bateria no World Qualifying Series (WQS), é seguido nas praias, no Instagram, no Facebook e no Twitter. Quanto às "seguidoras", desconversa. Reservado, diz que queria ter tempo para namorar.
Na rotina, entre as viagens para disputar as etapas do mundial, muito treino. A família, que ele carrega tatuada no braço, ajudou a controlar a alimentação e a manter a disciplina de ginástica funcional e muito mar. Ao sair da água, o pai repassava as manobras gravadas para juntos entenderem onde Gabriel poderia melhorar para a etapa seguinte.
Os recordes e a pouca idade fazem com que seja comum ver o sobrenome Medina ao lado de outra palavra: prodígio. Já tivemos Ayrton Senna na Fórmula 1, Pelé no futebol, Guga no tênis, César Cielo na natação. Mas, pela primeira vez, vemos um surfista conquistar o status de ídolo nacional.
Houve quem dissesse que ele não conseguiria surfar ondas como as de Teahupoo e Pipeline. Mas a nova palavra que agora acompanha o sobrenome de Gabriel deve afastar qualquer dúvida. Medina é campeão.
Sexta-feira, 19 de dezembro, é um dia histórico para o esporte nacional. Aos 20 anos, Gabriel Medina é o novo campeão mundial de surfe. O paulista de Maresias não precisou nem mesmo esperar o final da última etapa do circuito para se tornar o primeiro brasileiro a conquistar o principal circuito do esporte. Após se classificar às quartas de final, Medina viu Kelly Slater e Mick Fanning serem derrotados pelo catarinense Alejo Muniz, o que garantiu o título ao seu compatriota.
"Garoto dos recordes", Medina iguala feito de Slater
Confira a trajetória de Gabriel Medina em sete vídeos
Depois de cinco dias de interrupção por falta de condições para o surfe, a ondulação esperada pela organização do Pipe Masters entrou e os surfistas voltaram à disputa. Com um começo avassalador, Medina atropelou o havaiano Dusty Payne e ganhou com facilidade a sexta bateria do dia. Com dois belos tubos em Pipeline (saída pela esquerda da onda), saiu na frente com notas 8,83 e 5,83.
O adversário, que lutava pelo título da Tríplice Coroa Havaiana (soma dos resultados dos principais campeonatos realizados no Havaí), reagiu com um tubo avaliado em 7,17. Depois de administrar bem o tempo, o brasileiro entubou Backdoor (direita da onda) e garantiu a vitória na bateria, com mais um 8,83. O resultado eliminou o multicampeão Kelly Slater da disputa pelo título, agora era só esperar por Mick Fanning.
Quando Fanning entrou na água, Medina acompanhava pela televisão a bateria decisiva. Se o australiano perdesse para Jeremy Flores, o Brasil comemoraria seu primeiro título do World Championship Tour (WCT). Flores saiu na frente, mas uma virada a três minutos do final da nona bateria levou o local de Gold Coast à quarta rodada da competição. E adiou a festa brasileira.
Tempestade brasileira
Kelly Slater, então campeão do Pipe Masters, foi derrotado na última bateria do terceiro round pelo brasileiro Alejo Muniz. Nos segundos finais, o catarinense entubou uma onda definida pelo próprio Slater como "a melhor deste inverno", avaliada em 9,50. Enquanto isso, uma disputa nacional por uma das vagas diretas às quartas de final já estava definida: Toledo enfrentaria Josh Kerr e Medina na quarta rodada.
Os brasileiros disputaram onda a onda, até que Medina conseguiu passar à frente no fim com um belo tubo no Backdoor e pular uma etapa em direção ao título. Toledo e Kerr permaneceram para a repescagem, o que aconteceria em seguida com Mick Fanning.
Na pressão, Fanning perdeu para Adrian Bucchan em uma bateria fraca, com a melhor onda avaliada em 5,13.
Depois, no quinto round, Fanning enfrentou Alejo e foi batido pelo catarinense. Muniz aproveitou duas ondas rápidas para anotar 6,53, enquanto Fanning não passou de 2,44. Os números mágicos, que deram o título a Medina. O campeão do mundo entrou na água para comemorar fazendo o que mais gosta: surfando.
- Parabéns, Gabriel! Grande performance. Eu só vou ter que lidar com você por pouco tempo. Sinto pena dos caras da sua idade.
Veja o que Slater disse de Medina no Instagram: