Eu vivi um sonho de 23 dias em Fortaleza. Cobrir a Copa do Mundo na Capital do Ceará foi extremamente gratificante. Pude acompanhar dois jogos do Brasil, transmitir outras quatro partidas envolvendo seleções como Alemanha, Holanda e Uruguai, e constatar a energia que o povo nordestino transmitiu aos jogadores e aos turistas. Foram pouco mais de três semanas que passaram como se fosse uma hora. Os fatos que mais me marcaram positivamente foram a invasão mexicana para os jogos contra o Brasil e Holanda, e as partidas da nossa Seleção com mais de 60 mil pessoas cantando o hino a capela na Arena Castelão.
Além disso, no último dia, a cobertura sobre a lesão do craque Neymar foi trabalhosa, difícil e, acima de tudo, triste.O primeiro jogo que transmiti, dois dias depois de chegar a Fortaleza, já foi uma ótima surpresa. A sensação da Copa, a Costa Rica, que deixou a competição com a melhor campanha na sua história, e de forma invicta, venceu de virada o Uruguai. No dia seguinte, o jornal local O Povo, não perdeu a oportunidade e lascou na manchete: Castelazo.
Após Costa Rica 3 x 1 Uruguai já veio a invasão mexicana, com direito à chegada pelo mar. Um navio-hotel com 3,6 mil mexicanos atracou no porto de Mucuripe, próximo ao hotel onde a delegação ficou hospedada. À noite, a festa foi tão grande e tão bonita na frente do hotel, que os jogadores não resistiram. Desceram dos quartos, ficaram bem próximos à torcida, tiraram as camisas e começaram a sacudí-las, enquanto o povo foi à loucura na beira da praia de Iracema. Dois dias depois, o México fez uma bela partida contra o Brasil e empatou em 0 x 0, com excelente atuação do goleiro Ochoa. No estádio, uma bela festa entre povos tão simpáticos, os brasileiros e os mexicanos. Depois foi a vez de ver de perto a favorita Alemanha, que acabou sendo campeã. Mas no jogo de Fortaleza, o time de Neuer e companhia não foi bem. Empatou em 2 x 2 com a limitada seleção de Gana, cujos jogadores estavam descontentes devido a questões financeiras. Para encerrar a primeira fase, uma vitória histórica da Grécia, de virada, contra a Costa do Marfim, por 2 x 1. Foi a primeira vez que os gregos chegaram às oitavas-de-final.
O jogo das oitavas-de-final que Fortaleza sediou foi o único entre equipes invictas. A Holanda havia vencido todas e o México empatou apenas um jogo. E a partida foi digna de duas boas seleções. Até os 42 minutos do segundo tempo, o México estava eliminando a forte equipe de Van Gaal. Mas Sneider empatou. E aos 48 minutos, em penalti polêmico, os holandeses viraram e ficaram com a vaga, Após este jogaço, de domingo até sexta-feira ficou a expectativa, na capital do Ceará, para o confronto entre Brasil e Colômbia, do goleador James Rodrigues. No dia do jogo, uma grande festa. Mais de 60 mil pessoas viram a boa vitória do Brasil por 2 x 1, mas também se assustaram com a lesão de Neymar. Fui designado a acompanhar a situação do craque brasileiro no Hospital São Carlos, onde ele foi fazer exames.
Eu deveria traçar uma estratégia para sair rapidamente do Castelão, em meio a milhares de pessoas e com poucas opções de transporte. Mas tudo deu certo e consegui ser um dos primeiros jornalistas a chegar ao local, que já recebia dezenas de torcedores que davam apoio ao jogador. Foi um momento difícil para o Brasil e, também, para fazer a cobertura. A lesão do craque foi confirmada e os brasileiros sentiam que, apesar da vitória contra a Colômbia, os próximos passos na competição seriam bem difíceis.
A cobertura da Copa em Fortaleza terminou nas quartas-de-final, mas, na minha memória, nunca irá acabar. Levo a alegria e a humildade do povo cearense. Levo 6 jogos inesquecíceis. Levo comigo a Fan Fest mais movimentada do país com cerca de 1 milhão de pessoas. Levo a confraternização entre vários povos e raças. E retorno à minha terra, ao Rio Grande do Sul, ciente de que dei o máximo para cumprir o princípio básico do jornalismo, que também levarei até o fim da carreira: prestar serviço à sociedade.