A passagem do britânico Raymond Whelan, diretor executivo da Match, na 18° Delegacia de Polícia, no Centro do Rio de Janeiro, durou cerca de 12 horas. No começo da manhã de terça-feira ele, que está envolvido na venda ilegal de ingressos da Copa, já estava de volta ao Copacabana Palace, e durante todo o dia foi visível o clima de constrangimento no hotel.
Durante as duas horas em que a reportagem esteve no saguão, foi possível escutar dezenas de vezes funcionários da FIFA comentando o assunto. Por causa do jogo do Brasil, o local não estava tão cheio como na segunda-feira, quando por volta de 15h40, Whelan, que tomava um café expresso acomodado em uma das poltronas ao lado da recepção foi detido por policiais civis.
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Naquele momento, o príncipe de Mônaco Albert e o ex-jogador Caniggia estavam em uma mesa ao lado, provocando uma situação desconfortável para a organização do Mundial. Desta vez, o executivo não saiu do quarto. Na porta principal do hotel mais famoso do Rio de Janeiro, cerca de 40 seguranças de terno e gravata estavam atentos a toda movimentação. O contraste era impressionante, pois do outro lado da rua fica a Fan Fest, com a circulação de milhares de torcedores. Em nota oficial, a empresa que representa a FIFA na comercialização dos ingressos, garantiu que Whelan vai permanecer no Brasil trabalhando no torneio.
O dono da Match, o mexicano Jaime Byrom, alegou em mensagem enviada a clientes, que o seu funcionário tinha contato com Mohamoud Lamine Fofana, líder da quadrilha de cambistas e preso desde a semana passada, porque Fofana pediu 30 troféus em miniatura para presentear membros da seleção brasileira campeã da Copa de 1970. A Polícia Civil, que interceptou 900 ligações entre os dois, tem convicção que Whelan desviava pelo menos mil entradas por jogo para Fofana.
O britânico terá que se apresentar quinzenalmente à justiça do Rio. A medida foi determinada pela desembargadora Marília de Castro Neves Vieira, que ao conceber habeas corpus, também determinou o pagamento de fiança de R$ 5 mil, além do recolhimento do passaporte dele. O delegado titular da 18° DP, Fábio Barucke, vai pedir a nova prisão do diretor da Match. O único pronunciamento da FIFA, até agora, foi um comunicado da porta-voz Delia Fischer informando que a entidade está apoiando as investigações e disposta a ajudar no que for necessário.
O presidente Joseph Blatter, cercado por jornalistas ao sair de uma reunião no Hotel Sofitel, não respondeu a nenhuma pergunta. Atrás da linha de seguranças que o protegiam, disse “só falo sobre futebol” e entrou no carro. Seu sobrinho, Philippe, é dono da Infront, empresa que tem 5% das ações da Match Hospitality. A única entrevista coletiva oficial marcada pela FIFA, por enquanto, é para a próxima segunda-feira, às 10h30, um dia depois da final da Copa. A grande questão é saber se o contrato entre FIFA e Match, que prevê exclusividade da venda dos ingressos para as Copas de 2018 e 2022, será mantido.