A seleção da Argélia será novamente uma atração em Porto Alegre, na próxima segunda (30), em jogo válido pelas oitavas de final, contra a Alemanha. Mas, desta vez, os argelinos jogarão em meio ao período do Ramadã, mês sagrado para os muçulmanos. O assunto gera tanta polêmica, que o técnico da equipe, o bósnio Vahid Halilhodzic abandonou a última entrevista coletiva, irritado com as perguntas sobre o tema.
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O assunto é delicado, pois, de acordo com o Alcorão, o livro sagrado do Islã, os muçulmanos devem, durante o Ramadã, fazer jejum entre o nascer e o por do sol, orar, refletir, permanecer em casa, além de adotar a abstinência sexual. A Argélia é o único país predominantemente muçulmano que permanece na Copa. Várias das restrições religiosas prejudicariam a preparação da equipe, uma vez que os atletas precisam treinar de forma intensa e manter uma alimentação adequada, por se tratar de um esporte de alto rendimento. A dúvida é como será o comportamento dos jogadores nesta fase decisiva. Afinal, os argelinos nunca chegaram tão longe em um Mundial.
O Ramadã inicia no oitavo mês do calendário lunar islâmico. Em 2014, deve começar ou no sábado (28), ou no domingo (29). Dependerá de quando a lua será visível nos países muçulmanos. De qualquer forma, a seleção da Argélia certamente vai jogar em Porto Alegre durante o período sagrado.
Após o empate contra a Rússia, por 1 a 1, em Curitiba, que garantiu a classificação argelina, o treinador da equipe foi questionado três vezes sobre o tema. Nas duas primeiras, respondeu que gostaria apenas de falar sobre esporte. Na terceira, irritou-se e abandonou a coletiva: “Não sei por que vocês insistem em falar sobre esse assunto. Já disse que só falo sobre futebol. Obrigado”, afirmou Halilhodzic, antes de, irritado, abandonar a sala.
A reportagem da Rádio Gaúcha, em Curitiba, conversou com dois jornalistas argelinos para saber mais sobre o que a cultura islâmica permite, proíbe e recomenda, no caso dos jogadores da Argélia, e dos próprios repórteres argelinos, que participam do maior momento do país na história das Copas.
“Eu não vou fazer jejum. Estou trabalhando fora do meu país. Não me sinto obrigado a cumprir o Ramadã agora. Depois da Copa, quando eu voltar para Argélia, aí sim eu vou começar. Mas isso é uma postura pessoal minha. É um trato que cada um faz com Deus. É a posição de cada um. Há pessoas que são mais conservadoras e não tem a mesma opinião. No meu entendimento, os jogadores da seleção da Argélia não estão obrigados a entrar no Ramadã. Eles estão trabalhando em função da Copa do Mundo e precisam treinar e se alimentar para desempenhar o seu melhor futebol. Mas entendo que este assunto cause controvérsia, pois é um tema delicado no mundo muçulmano”, declarou o jornalista Mohammed Belarbi, do jornal L’Algerie.
O repórter Mohammed Benelhadj, do jornal Le Buteur, adota uma postura um pouco mais conservadora, mas também entende que o Ramadã não deve prejudicar a preparação da seleção da Argélia: “Eu vou fazer jejum e vou rezar cinco vezes por dia assim que começar o Ramadã. Mas os jogadores não precisam fazer isso. Eles estão trabalhando fora do país e estão jogando uma Copa do Mundo. Deus permite que eles sejam dispensados do Ramadã”, disse.
Em síntese, os jogadores da Argélia devem treinar e participar normalmente dos jogos da Copa. Ao menos que algum atleta muçulmano da equipe tenha uma compreensão mais ortodoxa da cultura islâmica e insista em cumprir os rituais do Ramadã mesmo em meio ao Mundial.
A Argélia jogou em Porto Alegre no dia 22 e venceu a Coreia do Sul por 4 a 2, no Beira-Rio, em jogo válido pela fase de grupos. Agora, volta à capital para um jogo histórico contra os alemães. É a primeira vez que os argelinos chegam à segunda fase de um Mundial.