Já tarimbada pelos históricos títulos de 1930 e 1950, o Uruguai fez uma boa participação na Copa do Mundo de 1970, no México, chegando à quarta colocação. A Celeste foi eliminada na semifinal, após derrota para o Brasil, por 3 a 1. Um dos zagueiros do time uruguaio era Ancheta, um dos grandes defensores do Grêmio nos anos 70. Em entrevista à Rádio Gaúcha, o ex-jogador charrua acredita que a mudança no local da partida prejudicou o desempenho da sua equipe.
"Aquele jogo ficou definido antes. Já sabíamos que seria difícil. Deixaram trocar a sede. A partida era para ter sido jogada na Cidade do México, mas foi trocada um dia antes para Guadalajara. Os representantes uruguaios não foram na reunião que definiu a mudança. Isso nos dificultou bastante. O Brasil já estava jogando em Guadalajara e tinha mais torcida lá. Tivemos, um dia antes, que arrumar as malas, viajar às 5 da manhã, tivemos uma noite mal dormida. Isso nos desgastou bastante. No nosso hotel, tinha uma boate que funcionava até as 5 da manhã. Era um estrondo. Isso deixou tumultuada a delegação. E mesmo assim foi um jogo parelho", recorda Ancheta, então zagueiro do Nacional, de Montevidéu, naquela Copa.
Depois, teve a Copa do Mundo de 1974, onde Ancheta não foi chamado, apesar de estar encantando a todos com belas atuações no Campeonato Brasileiro, já defendendo o Grêmio. "Em 74, eu estava muito bem. Em 73, eu tinha ganho a Bola de Prata da Placar. Quando os jogadores eram convocados, a seleção pagava um quarto do meu salário. Aí queriam que o Grêmio pagasse a outra parte. Não era muito. Eram 1500 dólares. O Grêmio disse que, se eu fosse para a seleção, o Uruguai tinha que pagar tudo, senão eu não iria. Eles começaram a discutir quem pagava. Ai já saiu nos jornais que eu estava sendo mercenerário, que eu queria dinheiro, e mais um monte de besteiras. Fui prejudicado. A única coisa que eu queria era receber o meu salário. Queria jogar pelo Uruguai. Mas só queria que pagassem o meu salário, pois eu precisava dele. Eu tinha as minhas contas para pagar", reclama Ancheta.
O imbróglio esteve próxima de ser solucionado. Mas ficou pior. "Me propuseram que eles (dirigentes uruguaios) pagariam todo o salário, mas eu teria que devolver em parcelas. Eu aceitei, pois nunca me importou o dinheiro. Me importou sempre muito mais a minha pessoa. Eu disse que aceitava porque sou um cara direito e não queria ser difamado. O que aconteceu é que eu não peguei uma cópia do contrato. E quando eu peguei o jornal no outro dia, estava escrito: “Jáuregui (outro zagueiro convocado) vem de graça. Ancheta, por problemas financeiros, não vem para a seleção”. Eu fiquei louco. Fui embora e fiquei muito chateado. São coisas que acontecem no futebol que ninguém sabe. Esse foi o problema de 74", lamenta Ancheta.
Atílio Genaro Ancheta Weiguel, nasceu em Florida, no Uruguai, em 19 de julho de 1948. Ele foi zagueiro do Uruguai na Copa do Mundo de 1970 e defendeu o Grêmio entre 1971 e 1979.
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Confira a entrevista com Ancheta