Aos 47 minutos do segundo tempo a bola na marca do pênalti é a aparente sentença de morte do Atlético-MG na Copa Libertadores da América, a conquista que dará nova vida ao segundo clube mais popular de Minas Gerais. Seu último grande título nasceu nos anos 1970, no início de uma competição que hoje é chamada de Brasileirão. São imensas cinco décadas de uma espera sem fim.
O jogo contra o bom time do Tijuana, um dos mais bem organizados e técnicos da competição, está 1 a 1. O segundo gol mexicano abrevia a vida dos mineiros no torneio. O empata salva os brasileiros. É o momento mais emocionante depois de cinco meses do maior torneio de futebol da América do Sul. Uma competição que libera os instintos mais selvagens dos torcedores da região.
Riascos, um dos melhores em campo, corte de cabelo estilo moicano, um guerreiro de chuteiras, ajeita a bola com carinho de babá. O Estádio Independência, a Bombonera do Galo, faz tanto silêncio que os ouvidos sintonizam o vento discreto, o barulho da bandeirinha de escanteio tremulando, o clic dos isqueiros, a respiração do goleiro Victor, o ranger de dentes de milhares de atleticanos.
No meio da goleira, as chuteiras deslizando sobre a linha branca e fatal do gol, Victor observa o adversários com olhos arregalados. Riascos se move, olha para os dois lados, corre e chuta firme e forte quase no meio do gol. Victor, meio caminho andado rumo ao canto direito, solta o pé esquerdo no ar e toca na bola, que muda de trajetória, se afasta e deixa as redes imaculadas. O empate está salvo. Victor reconstruiu o futuro do seu time. Riascos guardará o erro para o resto da sua vida com uma tatuagem maldita.
Entre gritos, desmaios, corações parados, olhos grudados no Céu e na grama, os torcedores não sabem o que fazer,como se comportar, agir. Rir, chorar, correr, se perder em um mar de alegria. Quem não acreditava mais em milagre, rezou. Quem acreditava, passou a orar duas vezes por São Victor.
O Atlético-MG descobriu um herói em 30 segundos. Ele não faz gol, defende. É um instante raro no futebol quando a torcida abençoa seu goleiro. Nem todos os santos vestem a camisa 9.
Perguntaram ao goleiro, que já foi do Grêmio, depois que ele se livrou da pirâmide humana que foi abraçá-lo no final da partida em Belo Horizonte, o que ele tinha achado da defesa. Nadando entre microfones, suado, tomado pela emoção, a torcida enlouquecida gritando seu nome, ele disse.
- Sem palavras.
Perfeito, Victor. Uma frase não define sua defesa histórica.
Sábia colocação.
Sua defesa vale um livro de 500 páginas, talvez a obra que recupere um possível título da Libertadores 2013 comece com um grito impresso no papel.
- Defendeeeeeeuuuu, defendeeeeuuuu.