Temido na área e imbatível entre os zagueiros, o ex-atacante Alcindo Martha de Freitas morria de medo de tomar injeção no seu tempo de Grêmio, de 1964 a 1971. Quarta-feira era o dia da vitamina B12, uma dose cavalar de líquido vermelho e uma agulha grande o suficiente para colocar medo em um centroavante chamado de Bugre Xucro. No vestiário, quem estava na fila via o sangue escorrer no companheiro da frente.
Alcindo pegou o vírus, que está incubado, sem manifestação. Suas outras complicações, o diabetes e a insuficiência renal, podiam ter origem nele, mas não é o caso. Só não sabe onde pegou. Se foi no Olímpico, deve ter sido antes de 1967. Depois disso, o então médico do Grêmio, Eduardo de Rose, hoje integrante do conselho da agência mundial antidoping, garante que o clube utilizava injetáveis de vitamínicos e infiltrações, mas com seringas devidamente higienizadas, o que não poderia propagar o vírus. O mesmo ocorria no Inter, segundo afirmou o médico dos anos 1970 João Horácio Costa Borges
- As seringas eram esterilizadas em forninhos elétricos de autoclave, de alta pressão e calor - disse De Rose.
Ou seja, mataria qualquer vírus da hepatite, mesmo que tenha sido descoberto só em 1989.
É grande a turma dos que se negam a realizar o exame. Os amigos não entendem por que Flecha, ex-ponteiro do Grêmio na virada dos anos 1970, rejeita o teste para hepatite.
- Eu não tenho nada. Estou muito bem - justificou Flecha, hoje aos 66 anos.
É a mesma atitude de João Severiano, meia do Grêmio dos anos 1960. Aos 71 anos, a cada três meses ele realiza exame de sangue que indica o colesterol. O da hepatite, ele se nega a fazer:
- Não procuro coisa para me incomodar.