João e Daizon Pontes formavam a mais carniceira das zagas dos anos 1970. No Gaúcho de Passo Fundo, metiam medo por onde pisavam. Daizon, principalmente. Zagueiro de antecipação, também batia. Batia muito. Aproveitava-se do seu 1m86cm de altura - alto para a época-, cuspia no rosto, metia o dedo no traseiro dos inimigos e distribuía cotoveladas. Rasgava a canela do atacante com as traves de metal da chuteira. Tinha no currículo o recorde de 20 expulsões e dois socos no árbitro José Luiz Barreto. Esteve no Flamengo. Mas jogou um companheiro para fora do gramado no treino e foi mandado embora. Ficou três meses.
Antes dos jogos, Daizon mandava recado desaforado nas rádios. Costumava ameaçar Grêmio e Inter: "Ninguém vai entrar na minha área". Depois da partida, ria de tudo. Brincava com os adversários, suas vítimas lanhadas. Recolhia-se, então, à sua vida pacata, embora fosse um gozador bonachão. Não bebia. E tudo com ele era certinho, regrado.
De tão metódico, preferia carregar de casa a própria seringa. Em dias de aplicação, o zagueiro apresentava ao enfermeiro o seu estojo da seringa. Só ele a usava no Wolmar Salton. Talvez por precaução contra doenças venéreas, talvez por simples capricho. Sem saber, evitou a hepatite. Morreu por outro problema, um AVC, em junho de 2012. Tinha 74 anos e viveu 10 anos acima da média dos companheiros do Gaúcho de 1973.
O irmão João, por exemplo, o outro cara de mau daquela zaga, submetia-se à seringa macabra. Morreu por causa da hepatite, em 2005. Tinha 62 anos.