Um gaúcho de Porto Alegre que não é muito chegado ao chimarrão. Um dirigente à moda antiga, com frases de efeito e adaptado à modernidade do futebol. Paulo Pelaipe, anunciado logo nos primeiros dias da nova gestão como diretor executivo de futebol de Eduardo Bandeira de Mello, percebeu em quase duas semanas o peso de trabalhar no Flamengo.
- A diferença para o Grêmio, meu antigo clube, é grande. As repercussões do que se fala são muito maiores aqui. É um outro mundo - constata o dirigente.
Até 2007, Pelaipe conciliava o futebol com uma empresa de seguros de vida e previdência em Porto Alegre. Ao tomar a decisão de dedicar-se exclusivamente ao futebol, passou a gestão do negócio para a esposa. Virou um profissional da bola, bem remunerado - acertou com o Flamengo por um salário de aproximadamente R$ 100 mil. Sem arrependimento.
- Viajava pelo mundo e via uma tendência de profissionalização, que estava chegando o momento de surgir esse cargo no Brasil. Quando você é dirigente amador, não ganha nada, tem de dividir sua fonte de renda com o futebol, o que acaba prejudicando a família. Abri minha empresa de consultoria esportiva em dezembro de 2007 e, desde então, passei a sobreviver do futebol - explica Pelaipe, de 61 anos.
- Não sou sem-vergonha. Tenho caráter e o nome de minha família a zelar. Não admito que duvidem da minha idoneidade.
A vida no Rio de Janeiro ainda está se ajeitando. Até bem pouco tempo, o celular que estava usando era de Porto Alegre. Agora, já tem o prefixo 21. Tem passado este primeiro momento na Barra da Tijuca. Um gaúcho que gosta de papear, mas com o perfil centralizador. Gosta de estar por dentro de tudo o que acontece no clube no qual está trabalhando. Respira o Flamengo o dia todo. Por toda essa dedicação, não aceita trabalhar com jogadores que não estão envolvidos com a causa. Douglas, hoje no Corinthians, sofreu com isso na época de Grêmio.
- Meu dia no clube começa às 10h e geralmente dura 16 horas. Na parte da manhã, eu me envolvo com o que está acontecendo com o departamento de futebol. Tenho conversado muito com Sérgio Helt (supervisor), Zinho (diretor de futebol), Carlos Noval (diretor da base) e Carlos Brazil (coordenador da base). Depois disso, começo a fazer contatos com empresários, consultar quais jogadores estão com interesse em defender o Flamengo. Só depois abro meu e-mail, para ver os relatórios, a avaliação de cada atleta do elenco. Tenho de me inteirar de tudo - avisa.
- A palavra final nunca será minha, será do Wallim (vice de futebol) e da diretoria, mas sou a ponte entre o futebol e esses dirigentes.
Oficialmente, Pelaipe só assume a função no dia 2 de janeiro, quando a nova diretoria passará a comandar o clube de forma efetiva. Ele sabe que o desafio de recolocar o Flamengo nos trilhos é grande, mas em momento algum titubeou:
- Medo é uma palavra que não existe no meu vocabulário.
Quem é
Nome:
Paulo Roberto Jardim Pelaipe
Nascimento:
14/2/1951, em Porto Alegre (RS)
Carreira
Dirigente de futsal do Grêmio na década de 70. Passou pela base e foi diretor de futebol gremista. Foi gerente-geral do Fortaleza e consultor do Corinthians. Em 2011 voltou ao Grêmio, no cargo de executivo.
Com a palavra
Eduardo Moura
Correspondente do Diário LANCE! em Porto Alegre
Pelaipe sempre está na linha de frente
Acho que Paulo Pelaipe é um profissional de grande qualidade, já conhece bastante o mercado e sabe o que pode ou não no meio do futebol.
Uma característica forte dele é de estar sempre na linha de frente, sempre presente nos treinos, ao lado do treinador, além de valorizar bastante as categorias de base. Tem um bom relacionamento com a imprensa, mesmo sendo de lua, pois tem uma personalidade forte.
O trabalho dele no Grêmio foi bom, chegou por aqui em meados de 2011 e melhorou bastante o time. Contratou quase 20 jogadores e os que não batiam com filosofia dele não permaneceram na equipe.
Mas independentemente desse jeito meio turrão, ele tem boa percepção do mercado, além de conhecer muitos empresários.
Com a palavra
Júlio César Santos
Repórter da RBS TV, de Porto Alegre
É um homem de personalidade forte
Paulo Pelaipe é um homem de personalidade bem forte, é direto nos assuntos que tem que tratar e procura sempre manter um bom relacionamento com os profissionais da imprensa.
Ele gosta da rivalidade entre os clubes, é provocador e um pouco polêmico em certos momentos, mas é um ótimo dirigente. Trouxe para o Grêmio o Marcelo Moreno, Elano e Zé Roberto por ter muito conhecimento no mercado. Aqui no Sul, o Dorival e ele eram adversários, mas acredito que isso fique no passado, já que estarão no início de um novo projeto.
O Pelaipe deve estar muito contente de poder trabalhar em um clube como o Flamengo, pois a saída do Paulo Odone da presidência do Grêmio foi fundamental para aceitar o convite de ir para o Rio.