E daí que a Fifa não o colocou entre os cinco melhores do Mundial? E daí que ele está com um lado do rosto paralisado e a panturrilha esquerda comprometida? Com todos os problemas, Falcão ainda é o cara da Seleção Brasileira de Futsal. Foi ele o responsável por entrar no segundo tempo e mudar o panorama do jogo contra a Espanha. Foi com ele em quadra que o Brasil marcou seus gols no empate de 2 a 2 com a Espanha no tempo regulamentar. E, com ele no time e o gol decisivo de Neto na prorrogação, a 20 segundos do final, o Brasil é heptacampeão mundial no futsal!
Antes do jogo, a federação espanhola de futsal já trazia em seu site oficial o escudo com o terceiro título mundial, dando como certa a vitória sobre o Brasil neste domingo. Eles só esqueceram de combinar com Falcão e Neto. Concorrente ao título de melhor jogador do Mundial, ele começou errando muitos passes, mas foi decisivo ao marcar dois dos gols brasileiros na partida decisiva - o outro foi de Falcão. Descontaram para a Espanha Torras e Alcardo.
O JOGO
Na quadra azul do ginásio Huamark, em Bangoc, a Fúria começou o primeiro tempo buscando inspiração no estilo que consagrou a seleção espanhola de futebol: valorizando a posse de bola e marcando pressão na quadra do adversário. Acuado, o Brasil conseguiu segurar bem o ímpeto do adversário, mas sentia dificuldades na hora de sair jogando. Neto foi uma das maiores vítimas da marcação espanhola, errando muitos passes bobos.
Com ritmo cadenciado, virando a bola de um lado para o outro para desequilibrar a defesa brasileira, os espanhóis levaram perigo com um chute de Lozano, salvo em cima da linha por Vinícius. Com o brasileiro naturalizado Fernandão na referência, a Espanha chegou a ter 60% de posse de bola. O quadro só mudou aos 14 minutos, quando o técnico Marcos Sorato parou o jogo e mudou a postura do time - nesse momento, a arquibancada já ensaiava gritos de "Falcão, Falcão". O craque brasileiro se aquecia atrás do banco de reservas enquanto Pipoca dava instruções que mudaram a postura brasileira na partida.
Ari, no primeiro ataque após a parada, desferiu chute perigoso salvo por Ortiz, de carrinho. Mais seguro, a equipe brasileira começou a errar menos passe e diminuiu a vantagem dos espanhóis na posse de bola, que caiu para apenas 52%. Percebendo o crescimento do adversário, o técnico espanhol tratou de pedir tempo e arrefeceu a reação brasileira, diminuindo a intensidade do jogo até o apito do juiz. Ainda deu tempo de Fernandão, que incomodou bastante a defesa brasileira, emendar uma falta cobrada por Miguelin com perigo e quase abrir o placar para os espanhóis.
Na segunda etapa, como de praxe neste Mundial, foi a vez de Falcão entrar em quadra. E aí o panorama do jogo mudou completamente. Mais insinuante, com troca de passes rápidas, a Seleção partiu para cima da Espanha. Nos minutos iniciais, Jé recebeu falta clara perto da área e o juiz não marcou, mas não fez tanta falta. Logo em seguida, Neto recebeu uma bola rolada do escanteio, encheu o pé esquerdo e somou alguns pontinhos a mais para ser eleito o melhor jogador do Mundial: Brasil 1 a 0.
Após o gol, a Espanha partiu para cima, acionando bastante o pivô Fernandão, mas sem assustar muito a defesa brasileira. Isso até Ari derrubar o pivô espanhol perto da área brasileira. Na cobrança da falta, Tiago fez grande defesa, mas a cobertura vacilou e Torras empatou o jogo no rebote.
A igualdade no placar desestabilizou o Brasil, que logo na sequência falhou na marcação e deixou Aicardo livre de marcação para virar o placar. O espanhol chutou, a bola desviou em Fernandinho e entrou no canto direito da meta defendida por Tiago. Em desvantagem, o técnico Pipoca colocou o craque Falcão de volta em quadra. A Espanha, no entanto, parecia ter reencarnado o espírito da Fúria no futebol de campo, como no primeiro tempo, e dominava as ações.
Em lance duvidoso, o árbitro marcou falta do goleiro Tiago em Aicardo e, na cobrança, a Espanha colocou a bola no travessão. Foi aí que a estrela de Falcão voltou a brilhar. Ele recebeu a bola faltando três minutos para o final e soltou uma pancada no ângulo direito de Juanjo para igualar o marcador. Com o mesmo placar da final de 2008, quando o Brasil foi campeão, as duas seleções levaram a decisão do Mundial da Tailândia para o tempo extra.
Mesmo pendurada com cinco faltas, a Espanha não afrouxou a marcação e tomou mais a iniciativa do jogo. Aproveitando os contra-ataques, o Brasil quase marcou com Falcão, que recebeu um lançamento na área, matou no peito, mas a bola escapou e fugiu pela linha de fundo. Na resposta espanhola, Miguelin acertou bom chute para defesa de Tiago. Nos segundos finais, a Fúria errou na saída de bola, e a Seleção teve a chance de finalizar com a defesa adversária aberta, mas hesitou, atrasou a jogada e desperdiçou a oportunidade.