Completa nesta terça-feira (28) os 50 anos da primeira vez em que a cidade de Porto Alegre recebeu seu primeiro jogo de Libertadores. Curiosamente, nem Grêmio ou Inter estavam envolvidos. Aliás, os colorados só fariam sua estreia na competição continental seis anos depois, em 1976, enquanto os gremistas entrariam em campo na década seguinte, em 1982. Naquele 28 de abril de 1970, coube a Nacional-URU e Universidad de Chile se enfrentarem no gramado do Beira-Rio para decidir um dos quatro semifinalistas da 11ª edição do torneio. Mas, afinal de contas, por que esta partida foi sediada em território gaúcho?
O mais curioso é que nenhum clube brasileiro disputou a Libertadores naquele ano. Finalista de 1968, o Palmeiras (então campeão nacional), mostrou indignação com a violência protagonizada pelo Estudiantes e abriu mão de sua vaga — com a anuência da Confederação Brasileira de Desportos (CBD). Sem o representante do Brasil, a Conmebol resolveu que um dos grupos da segunda fase, que eram compostos por três clubes, teria apenas dois. E lá estavam uruguaios e chilenos.
No primeiro confronto, em Santiago, uma vitória da "La U" por 3 a 0 parecia ter encaminhado a vaga. Mas, ao fazer 2 a 0 em Montevidéu, a equipe do Uruguai igualou o duelo. O regulamento previa um jogo de desempate em campo neutro e, assim, a capital gaúcha surgiu como alternativa.
Pelo registro dos jornais da época, compareceram cerca de 10 mil pessoas ao estádio colorado, que tinha capacidade para receber até 100 mil torcedores. Grande parte do público foi composto por porto-alegrenses que, sem compromisso com qualquer uma das equipes, foram apenas para assistir ao jogo. Entretanto, até mesmo pela proximidade geográfica, muitos uruguaios se fizeram presentes e impulsionaram o Nacional-URU a abrir o placar com apenas três minutos, por meio do atacante Julio Morales.
Na crônica do jogo, o jornal Zero Hora detalhou o lance como um choque violento entre o uruguaio e o goleiro chileno Adolfo Nef, que paralisou a partida por cinco minutos.
— O jogo, então, fica violento. São faltas e mais faltas, algumas sem bola, que o árbitro finge que não vê. É um verdadeiro festival de pancadaria. Apesar disso, o time do Chile joga um futebol rápido e destaca-se a exuberante atuação do ponteiro Pedro Araya, camisa número 11, às costas, dando um verdadeiro baile na defesa do tricolor uruguaio — descreve a matéria.
A Universidad de Chile igualou o marcador na abertura da segunda etapa, com o meia Yavar batendo o brasileiro Manga, futuro goleiro de Inter e Grêmio que defendia a meta do Nacional-URU. Com o empate perdurando pelos 90 minutos, as equipes tiveram de se enfrentar na prorrogação. O gol da virada e classificação chilena sairia somente no segundo tempo, anotado pelo meia Eduardo Peralta, que havia deixado o banco de reservas.
Nenhuma das duas equipes ficaria com o título naquele ano. A aventura dos chilenos na Libertadores acabaria na semifinal, diante de outro clube uruguaio, o Peñarol. Pela terceira vez consecutiva, a taça seria do Estudiantes, que tinha Carlos Bilardo e Juan Ramón Verón (pai de Juan Sebastián Verón) como jogadores de destaque. Porém, a maior competição das Américas entraria para sempre na vida do futebol gaúcho.
Ficha técnica:
Universidad de Chile 2x1 Nacional-URU
Data: 28/04/1970
Local: Estádio Beira-Rio, em Porto Alegre
Universidad de Chile: Neff; Gallardo, Juan Rodrigues, Quintano e Mário Rodrigues; Hodge e Yavar; Pedro Araya, Marcos, Arratia (Peralta) e Aranguiz. Técnico: Ulises Ramos.
Nacional-URU: Manga; Blanco, Ramos, Emilio Alvarez e Brunel; Sierra e Duarte Prieto; Célio (Mastoro), Artime e Morales. Técnico: Washington Etchamendi.
Gols: Morales (N), aos três minutos do primeiro tempo, Yavar (U), aos seis do segundo tempo, e Peralta (U), aos quatro minutos do segundo tempo da prorrogação.