O dia 1º de março de 2015 entrou na história do clássico Gre-Nal. O Beira-Rio recebeu, naquela tarde, pela primeira vez, a presença da torcida mista, quando colorados e gremistas sentaram-se lado a lado no mesmo setor. A repercussão foi tamanha que jornais nacionais e internacionais repercutiram a iniciativa da prefeitura, da dupla Gre-Nal, do Ministério Público e das demais entidades que colaboraram para a unificação das torcidas.
Quase 50 mil pessoas passaram pelas arquibancadas da torcida mista neste últimos cinco anos. A sequência de 20 Gre-Nais será interrompida nesta quinta-feira (12), no clássico 424 pela Libertadores, o primeiro da história da competição. Os motivos usados para a não existência do setor foram variados, desde o regulamento da Conmebol até a falta de interesse dos torcedores. No entanto, não está descartada a volta da torcida mista em jogos do Gauchão e do Brasileirão.
Criada com o objetivo de propiciar a convivência entre torcedores de times diferentes em clássicos Gre-Nais, a ideia surgiu após a Copa do Mundo e a análise de gremistas e colorados em jogos festivos, como foi o Lance de Craque, partida promovida por D'Alessandro desde 2014. Alexandre Limeira, ex-vice-presidente do Inter, foi um dos primeiros dirigentes a se atentar ao fato de que poderia existir uma união entre torcedores dos dois times.
A torcida mista evitou a torcida única.
ALEXANDRE LIMEIRA
Ex-vice de administração do Inter
— A concepção definitiva da ideia foi no primeiro Lance de Craque, em que vi vários gremistas e colorados no evento lado a lado. Decidi apresentar o projeto para as autoridades e para o Grêmio para que pudéssemos, já no primeiro Gre-Nal de 2015, ter a torcida mista. A torcida mista evitou a torcida única no Rio Grande do Sul — conta Limeira.
A ideia teve adesão não só por parte dos clubes, mas também em outros setores importantes no contexto da torcida mista, como o Ministério Público. Márcio Bressani, promotor do torcedor por mais de quatro anos, trata a ideia do setor como uma vitória da sociedade, que, até 2015, pedia torcidas únicas nos estádios do Estado.
— Foi um processo gratificante de atuação em favor da sociedade. A torcida mista propiciou que pais e filhos que tivessem times diferentes assistissem às partidas juntos. Foi uma conquista da sociedade, uma experiência diferenciada e um exemplo para se mostrar mundo a fora — salienta Bressani.
União de lados opostos
Se antes de 2015 os Gre-Nais muitas vezes ficaram marcados por confusões e brigas, a torcida mista mostrou um outro lado da rivalidade Gre-Nal. Em 2016, por exemplo, no intervalo do Gre-Nal 411, na Arena, um gremista pediu uma colorada em casamento. No entanto, ao longo dos anos, segundo os clubes, os torcedores de ambos os lados começaram a perder o interesse no setor. Assim, a procura teve uma baixa. Este foi um dos motivos para que os times não fizessem tanta força para reproduzir a torcida mista em um jogo do porte da Libertadores. Tanto Limeira quanto Bressani, que participaram da idealização do setor, veem isso como um retrocesso.
— É uma medida frustrante. O Ministério Público já emitiu ofícios para os presidentes, reforçando a importância da torcida mista. A torcida mista não compete com nenhuma outra. É um outro lugar, que até ajuda na ideia de permanência da torcida visitante. Desde a instituição do setor, nunca mais se falou em torcida única. Essa ideia trouxe de volta para os estádios crianças, mulheres e idosos — afirma o ex-promotor da Promotoria do Torcedor.
Apesar disso, os clubes não tratam a torcida mista como extinta. Ela, inclusive, deve estar de volta já no próximo clássico Gre-Nal, válido pela fase de grupos do segundo turno do Gauchão. Grêmio e Inter estudam as melhores formas de voltar a viabilizar a torcida mista.
— Está em aberto esta situação. Não se pode decretar o fim. Vamos avaliar isso depois do Gre-Nal de quinta-feira. É complicado afirmar qualquer coisa — disse Thiago Floriano, diretor do departamento do torcedor gremista.
Assim como a decisão de não haver torcida mista no Gre-Nal de quinta-feira, a opinião em relação ao futuro do setor também é consensual entre Grêmio e Inter.
— No clássico que teremos no segundo turno do Campeonato Gaúcho, no Beira-Rio, teremos torcida mista. A capacidade será reduzida, visto que estamos tendo cada vez menos demanda. Para os próximos clássicos, analisaremos junto ao Grêmio e tomaremos uma decisão conjunta. Acredito que podemos ampliar a capacidade das adversárias em um futuro próximo — completa Victor Grunberg, vice-presidente de administração do Inter.
Entre prós e contras, o que está certo é que a torcida mista passará por uma avaliação a respeito de sua continuidade.