O debate sobre debêntures ficou acalorado nas últimas semanas muito mais por uma questão política do que propriamente técnica. A ideia da direção de combater juros de dívidas usando esse artifício encontra resistência em conselheiros e o argumento é a inclusão do Beira-Rio como garantia do negócio. Apesar de soar polêmica, essa cláusula não implica em perder o estádio. Segundo o vice-presidente Dalton Schmitt, a torcida pode ficar tranquila:
— O Beira-Rio não está sob risco.
A explicação, novamente, é técnica. O estádio foi incluído na negociação apenas como uma garantia palpável ao mercado. É uma construção que existe. Traduzindo para uma pessoa, é como pedir um empréstimo e ter um imóvel. Dá segurança a quem fornecer o dinheiro.
O estádio é a quarta camada de garantia aos investidores. Antes de chegar a ele, há o fluxo da receita dos sócios, as rendas de bilheterias e um fundo de reserva.
De acordo com um estudo elaborado pelo clube, já na primeira camada estará pago o investimento. É uma questão matemática.
O Inter venderá R$ 200 milhões em debêntures e pagará em até cinco anos. Cada mês, o clube gastará cerca de R$ 6 milhões. Esse valor é coberto já com as mensalidades dos sócios, que rendem aos cofres colorados R$ 8 milhões mensais. Ou seja, cobre tudo e ainda sobram R$ 2 milhões.
— Nossa segurança é que fizemos um backtest, um estudo com os últimos cinco anos. Pegamos pandemia e enchente, momentos de estresse, críticos. E nunca deu menos de R$ 6 milhões — amplia Dalton Schmitt.
Caso desse tudo errado e furasse a primeira camada, o Inter teria ainda o dinheiro advindo da venda de ingressos para jogos. E ainda um fundo de reserva, uma conta que seria criada para eventualidades.
— Pode ver que não usamos nossas principais fontes de receita, que são as cotas de TV, os patrocinadores e a venda de atletas. Por isso digo que o estádio é apenas do ponto de vista formal por parte dos investidores — finaliza.
Debênture equivale a vender uma dívida. Neste caso, o investidor compra esse título e recebe um valor corrigido, com juros. Para o clube, é uma forma de diminuir a dívida. Grosso modo: é como se uma pessoa devesse a um credor que cobra 5% de juros ao mês e encontra um empréstimo com condições melhores, por exemplo 2% ao mês. A devedora paga a dívida maior (muito provavelmente com desconto) e passa a dever menos.
No caso do Inter, a estimativa é de reduzir o valor pago em juros em 30%. Com isso, desafoga o caixa, organiza os pagamentos e limpa o nome. No total, a direção estima economizar R$ 100 milhões em cinco anos.