Na entrevista de apresentação como diretor esportivo do Inter, D'Alessandro deu pelo menos três recados. O primeiro é de que conhece o ambiente, o vestiário. Será ele a cobrar atletas, comissão técnica e se reportar à direção. O segundo é de que o clube agora tem uma bandeira do coloradismo, alguém que a torcida pode confiar e que sirva de escudo. E a terceira é de que o Inter precisa se juntar, e o ídolo é um símbolo dessa união. Foi esse o tom da coletiva do antigo capitão, concedida ao lado do novo diretor-executivo, André Mazzuco, em uma solenidade conduzida pelo vice de futebol, José Olavo Bisol.
Tudo isso está carregado de significados. A começar que o presidente Alessandro Barcellos ficou na parte de baixo, junto aos demais integrantes do conselho de gestão, fora da bancada dos entrevistados. O protagonismo voltou à pasta do futebol, uma das mudanças defendidas por Bisol, que tem sido mais ativo também nas manifestações públicas, além de participar de negociações e tomadas de decisões.
Os novos dirigentes profissionais chegam com missões distintas. D'Alessandro é para campo, bola, treino, jogo, viagem. Conversa com jogadores, troca ideia com o técnico Roger, repassa demandas aos gabinetes. Se precisar gritar, vai fazer. Mas quer interferir pouco:
— Quanto menos intervenções eu tiver no vestiário, melhor. Não fui um cara que me omiti como capitão, como líder e não vai ser agora que vou me omitir.
Mazzuco é de perfil puramente técnico. Fala calma, homem de dados. Está lá para concluir negociações, organizar os processos, pôr em prática as diretrizes do Inter.
— O executivo é parte de uma engrenagem do clube. Acredito nos processos, na continuidade. O futebol brasileiro tem a cultura imediatista e que precisa ser combatida. Se você tem pessoas competentes, vai dar resultado. Queremos montar processos que façam o clube depender cada vez menos de nomes, que tenha um funcionamento orgânico e que volte a ter grandes conquistas — declarou na apresentação.
Entre as funções de D'Alessandro, está a de convencer a torcida a acreditar no time. E estar atento aos jogadores. Disse que gostava desse contato quando era atleta e que agora pretende intensificar isso estando do outro lado. Especificamente de Valencia, comentou:
— Primeiro, quero deixar claro que temos um dos melhores atacantes da América Latina. Sei que é difícil o momento, ele se cobra muito, não está satisfeito, principalmente por não fazer gol. Quando fizer um gol, vai se recuperar. Trabalha muito, treina muito. Vamos conversar. O que não vai faltar é apoio. Ele tem muita vontade de dar a volta por cima.
D'Alessandro, é claro, vai mais longe. Sua história de uma década e meia no Inter, cujo recomeço se dá agora de blazer e camisa abotoada e não mais de calção e camiseta número 10, falam por si. Por isso, não tem problemas para responder sua participação na última eleição. Ele seria coordenador caso Roberto Melo tivesse vencido Alessandro Barcellos. Citou cinco dirigentes que são seus amigos, todos declaradamente opositores no último pleito. E até isso ele fez questão de usar a seu favor, inclusive no recado final:
— Nunca quis ser um ex-atleta envolvido na política, quis ser um ex-atleta institucional. Aceitei o convite porque o presidente me ligou, o que diz muito sobre ele. E o que menos falamos foi da dívida (cobrada publicamente por ele no ano passado). Foram duas horas e meia de conversa. Minha volta é por priorizar o clube. Vocês sabem o quanto amo o Inter. Quero fazer um pedido. É hora de união, tranquilidade. Sou um símbolo dessa união, precisamos da torcida, do time, da política. É assim que vamos conseguir levar o Inter mais acima do que estamos.