O Beira-Rio será palco neste domingo, a partir das 11h, de um dos mais esperados duelos da segunda rodada do Campeonato Brasileiro. Inter e Flamengo estarão frente e frente em situações opostas no que diz respeito a longevidade de seus treinadores. Enquanto no lado vermelho Mano Menezes completa um ano de sua estreia na casamata colorada, Jorge Sampaoli vem de uma semana de trabalho no Ninho do Urubu e comandará o time carioca pela primeira vez no Brasileirão.
A trajetória de Mano no Beira-Rio tem números que, analisados friamente, se mostram positivos. Em 12 meses, comandou o time em 61 jogos, tendo conquistado 31 vitórias, obtido 24 empates e sofrido apenas seis derrotas. O aproveitamento total é de 64%. Mesmo neste ano, quando o desempenho gera críticas, o Inter tem apenas uma derrota, para o Grêmio, na fase de classificação do Gauchão.
Mas futebol não se define apenas pelos números frios. Sob o comando do treinador de 60 anos, o Inter fracassou nos momentos mais importantes. Ainda que tenha como ponto alto o vice-campeonato brasileiro, em nenhum momento o Colorado ameaçou a liderança do Palmeiras, que confirmou o título com quatro rodadas de antecedência.
As duas eliminações em mata-matas vieram em confrontos nos quais o Inter era amplamente favorito. Na Sul-Americana, o Colorado caiu para o Melgar-PER após dois empates por 0 a 0. No Gauchão, a equipe nem sequer conseguiu chegar à final. A eliminação na semifinal veio para o Caxias, que disputa a Série D brasileira, novamente sem vitória em nenhum dos confrontos. Para tornar mais decepcionante, as duas eliminações foram dentro do Beira-Rio. Somado a isso, o Inter ainda perdeu o único clássico Gre-Nal do período, naquele 2 a 1 na Arena.
— As pessoas não se dão conta que, no futebol, todo mundo, por melhor que seja, mais perde do que ganha. As exceções são campeões de períodos em períodos. Os outros, mesmo quem já foi ganhador, têm momentos que não ganha. Temos números como equipes entre as primeiras do Brasil. Vamos seguir fazendo isso e penso que fizemos bem. Mesmo nesse ano de bastante críticas, a gente está entre os que menos perderam em Série A. Não fomos campeões gaúchos, é verdade, mas só um iria ganhar. Não estamos felizes, mas isso não pode destruir o que estamos fazendo aqui. A gente acredita nisso, que estamos fazendo o certo e isso aumenta as chances das coisas darem certo hoje, amanhã ou depois de amanhã — afirmou Mano ao avaliar o seu primeiro ano do Inter nesta semana.
O longo tempo de trabalho do técnico, no entanto, não garante ao Inter o favoritismo diante de um recém-chegado Sampaoli. E isso não ocorre apenas pelo poderio técnico do Flamengo, mas, sim, pela dificuldade que o time colorado tem encontrado para reproduzir seus melhores momentos da temporada passada.
Depois de tentar repetir ao longo do Gauchão a ideia que funcionou no Brasileirão do ano passado, Mano abriu alternativas na equipe nos últimos jogos. Diante de CSA, Fortaleza e Metropolitanos, o treinador mandou o campo o time com três atacantes de ofício. Assim, Pedro Henrique e Wanderson jogaram juntos tendo ainda a parceria de um centroavante —Luiz Adriano ou Alemão.
Mas não pararam aí as alternativas buscadas. No Beira-Rio, diante das dificuldades enfrentadas nos primeiros tempo contra CSA e Metropolitanos, o treinador apostou em propostas diferentes na reta final das partidas. Sem um lateral-direito de ofício, ele manteve uma linha de três defensores atrás com Renê sendo um dos zagueiros e Pedro Henrique virou ala pela direita. Nos dois casos, a ousadia deu resultado com o Colorado buscando as vitórias.
O analista tático Gabriel Corrêa ressalta que, mesmo com as mudanças, Mano tem mantido sua base tática na equipe. Ele acredita que a maior parte dos problemas coletivos passa pela falta de um volante como Gabriel para dar sustentação à defesa.
— Em termos de sistema, a base e a estrutura não mudaram, mas as peças acabaram fazendo isso. O Inter sofreu bastante sem um 5 de maior capacidade física para defender e cobrir espaços como era o Gabriel, e ao manter De Pena na função ao lado de Jhonny no início da temporada o time sentiu. Tanto que a entrada de Baralhas, mesmo que não seja um 5, já ajudou, assim como Campanharo dá alguns sinais interessantes — avalia.
O analista completou:
— O trio de ataque foi uma tentativa de deixar o time mais agressivo atacando o que até aconteceu em alguns momentos, mas o time seguia inseguro na fase defensiva com o mal momento de Mercado e Bustos principalmente. A última foi mais desespero de último jogo, que já estava criando bastante chance e acabou fazendo só no final, mas tinha criado ao longo do jogo.
Em busca de uma formação que alie solidez defensiva com capacidade ofensiva, Mano Menezes terá diante do poderoso elenco do Flamengo seu maior desafio na temporada 2023. Quem sabe possa ser o que o Inter precisa para retomar os melhores momentos de 2022.
Tendência de escalação menos ofensiva
A busca de Mano Menezes por melhor desempenho faz com que a escalação do Inter para enfrentar o Flamengo tenha uma série de incógnitas. Apenas na defesa a tendência é de manutenção do quarteto formado por Igor Gomes, Vitão, Mercado e Renê. Do meio para frente, o treinador tem uma série de opções para variar a equipe em busca da primeira vitória no Brasileirão.
A dupla de volantes titular diante de Fortaleza e Metropolitanos com Johnny e Baralhas não agradou à torcida e recebeu críticas da imprensa. Somado a isso tem a melhora da equipe com as entradas de De Pena e Campanharo diante dos venezuelanos, na terça-feira. Uma mudança nos dois jogadores do setor poderia até ser considerada natural não fosse o Flamengo o adversário. Isso porque Baralhas e Johnny são mais defensivos que De Pena e Campanharo e a preocupação com o poderio ofensivo rubro-negro faz parte do planejamento de Mano para a partida.
Até mesmo por conta disso a formação com três atacantes não deve ser repetida. Mesmo com a manutenção do sistema 4-2-3-1, a tendência é de que Mauricio volte a ocupar o lado direito gerando uma disputa entre Pedro Henrique, Wanderson, Alemão e Luiz Adriano. Desses, apenas dois deverão iniciar a partida sendo que o mau desempenho recente deixe Luiz Adriano atrás na fila. Se Wanderson permanecer na ponta esquerda, Pedro Henrique só será titular caso seja novamente escalado como centroavante, opção que Mano não usa desde a derrota no Gre-Nal, em 5 de março.
No lado do Flamengo, mesmo com pouco tempo para treinar, Jorge Sampaoli mostrou logo em sua estreia diante do Ñublense-CHI, pela Libertadores, que não vai abrir mão de sua ideia de um time ofensivo. Mesmo tendo três zagueiros, o Rubro-Negro ocupou o campo de ataque com muitos jogadores. Gabigol atuou ao lado de Pedro com Marinho sendo o ala direito e Ayrton Lucas o esquerdo, ambos com bastante liberdade. O meio-campo teve Thiago Mais à frente dos zagueiros e Vidal e Gerson constantemente chegando à frente.
Ou seja, o Flamengo atacou muitas vezes no 3-1-6 prometido por Sampaoli em sua apresentação. Se teve volume ofensivo, por outro lado, o Rubro-Negro apresentou fragilidades defensivas, principalmente às costas de Marinho no setor direito.
O confronto deste domingo será um tira-teima entre Mano Menezes e Jorge Sampaoli. Os dois se enfrentaram duas vezes, com uma vitória cada. Em 2019, o Santos de Sampaoli venceu o Palmeiras de Mano por 2 a 0. Em 2020, o Bahia de Mano bateu o Atlético-MG do argentino por 3 a 1. Ambos jogos foram pelo Brasileirão.
Um ano de Mano Menezes no Inter
- 61 jogos
- 31 vitórias
- 24 empates
- 6 derrotas
- 98 gols marcados
- 46 gols sofridos
- 63,9% de aproveitamento
*Por suspensão, Mano esteve fora da casamata em quatro jogos. O time foi comandado por Sidnei Lobo:
- 3x0 Atlético-MG
- 4x0 Juventude
- 1x1 Coritiba
- 4x1 Esportivo